Magia Constante

África!

Magia constante na terra sofrida e bela.

Os sons inconfundíveis do amanhecer misturam-se com o colorido morno da paisagem nascente.

A vida recomeça a sua rotina milenar e o povo, consciente da grandeza da sua cultura e da sua sabedoria, procura água numa nascente antiga.

Na sua migração eterna, o sol inunda mais uma vez as flo­restas de luz e vida e dissipa suavemente as trevas que teimam em permanecer no interior das matas.

Nas savanas, quando o sol atinge o ponto mais alto no céu e os seus raios caem verticais e inclementes, a terra resseca.

Do solo sobem intermináveis ondas de calor e, nesse mo­mento, a pele negra das gentes nuas queima sob o sol impie­doso.

É o momento em que a sonolência invade os corpos e as mentes e o povo procura a frescura da sombra amiga nas árvo­res junto ao rio.

Porém, ao pôr-do-sol, quando o céu se tinge de vermelho, os corpos libertam-se do torpor e toda a magia africana aflora em sim­biose perfeita com a Natureza.

As borboletas esvoaçam entre as últimas cores do ocaso.

Enlouquecidas, desenham na derradeira luz do dia figuras mágicas que lembram deuses perversos, mistérios e feitiços e vivem intensamente essa luz que, ao extinguir-se, encerra o ciclo das suas existências efémeras e belas.

As cigarras começam então, à vez, a preencher com o seu canto, o fundo musical da grandiosa noite africana.

Quando as trevas vencem as últimas cores que desmaiam nos horizontes longínquos, toda a África se reúne sob frondo­sas mulembas.

À volta das fogueiras, enquanto as chamas ensaiam bailados fantásticos, os povos escutam as histórias dos mais velhos, cantam canções com a alegria pura das crianças e, com movi­mentos e ritmos únicos, coreografam danças evocativas de deuses e da vida.

África, terra das planícies sem fim que só terminam no céu; dos rios de águas cálidas, sonhado­ras e preguiço­sas; da meia-luz dos crepúscu­los que trans­porta nos seus coloridos raios oblíquos a tranquilidade e a paz das cate­drais; das queima­das, essas cortinas de fumo e fogo que pintam paisagens despoja­das; do frémito vibrante das manadas de her­bívoros que se deslocam pela savana imensa; do cheiro intenso da terra molhada pelos primeiros pingos das chuvas de Verão; da imensa simplicidade dos seus povos, de olhos tristes e ternos; e das atmos­fe­ras onde pulsam camadas cálidas, onde se dissemi­nam fra­grâncias naturais e onde, parece que se encontra a divindade.

Reinaldo Ribeiro

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