Prendas que Marcam

Nos meados do século passado, lá por 1955, recordo um Natal que me marcou. Já não acreditava no Menino Jesus e o Pai Natal ainda não tinha entrado, de todo, no imaginário dos portugueses, quando fui surpreendido por uma de meus Pais, na noite da consoada.

Era hábito a nossa família passar os Natais no “Monte” de meus Avós maternos. Meu Avô já tinha partido há cerca de dez anos. As prendas de Natal eram abertas na noite de 24 para 25 de Dezembro, junto à lareira, onde a lenha de azinho ardia irradiando o seu calor único… Riquezas do nosso Alentejo. Não havia, nessa altura, crianças na família. O mais novo era o meu irmão Vasco, com os seus 14 anos, e eu com os meus 16. Os brinquedos já tinham desaparecido há muito. Eu tinha mostrado, uns meses antes, muito interesse em ter um livro sobre aves selvagens. Na Escola de Regentes Agrícolas de Santarém, na disciplina de Zoologia, algo despertou o meu gosto pelo seu estudo, despoletando a minha paixão, desde miúdo, por tudo o que envolvia a Natureza, mais tarde canalizada para o estudo dos insectos…mas isso é outra paixão que dura até aos dias de hoje.

Quando nesse Natal recebi o meu presente verifiquei que era o livro que tanto gostaria de ter: “Guide des Oiseaux d’Europe”. Passei o resto dessa noite agarrado a ele…Queria folheá-lo, lê-lo, vivê-lo. Os meus Pais tinham-me só oferecido aquele presente…o presente que eu tanto desejava. Uma prenda que, ainda hoje, mais marcou em mim esta data.

A época natalícia, nos dias de hoje, atingiu índices de consumismo que desvirtuaram por completo o sentido desta quadra. Apela-se, por todos os meios, a esse consumismo e o sentido real destes dias é esquecido. Que haja Paz, Partilha e Amor entre todos, de todos os credos e todas as origens.

 

António José Zuzarte, Costa da Caparica, 13 de Dezembro de 2017.

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