Longe do Alentejo

Longe do meu Alentejo

Motivos vários obrigaram-me a afastar, em períodos de tempo mais longos, deste Alentejo, terra das minhas raízes, que embora presente todos os dias, me torna quase num migrante!!! As razões que me levaram a estas ausências são válidas, justificadas, bem vindas.

Aqui, o mar, lembra-me os grandes espaços das planícies e, as ondas, os relevos suaves , ondulados, sensuais, dos nossos campos. Os barcos e os surfistas podem representar as azinheiras e sobreiros, dispersos, sobre o vasto campo de visão que esta beira-mar me oferece.

Mais afastado da praia, nas dunas e pinhais próximos, tenho tido o previlégio de satisfazer a minha paixão entomológica, com colheitas muito interessantes de insectos novos para a fauna de Portugal.

Também as pessoas, que aqui estão sempre presentes a meu lado, me enchem de alegria. Os dois netos, um casal de gémeos, nascidos em Maio de 2008, o Afonso e a Leonor, vão crescendo, com saúde, e dando felicidade aos pais e avós!!!

Na praia encontro o Luís, que já conhecia há alguns anos, e que, com a sua imensa sabedoria, além dos seus conhecimentos de médico e pedagogo fora do comum, tenho aprendido o muito que ele sabe da Vida, aliado a uma cultura que nos prende quando com ele falamos. Ele também nasceu neste Alentejo, na terra do bom vinho de Reguengos, neste país do Sul, profundo, não por estar afastado dos grandes centros, mas pela grandeza das suas Gentes. Já seu Pai foi um homem de cultura, médico e um investigador dedicado a muitas áreas, entre elas a arqueologia, percorrendo esses campos que rodeiam Monsaraz, que Miguel Torga também pisou e, ao menir do Outeiro, dedicou nos seus “Diários” um poema: « Salve, falo sagrado,/ Erecto na planura/ Ajoelhada!/ Quente e alada/ Tesura/ De granito,/ Que, da terra emprenhada,/ Emprenhas o infinito! ».

Meu Alentejo, Terra do cante, dos campos floridos, das papoilas ,das estevas e dos trigais, dos montados de sobro e azinho, onde o toiro bravo pasta em liberdade, da Natureza mais ou menos intacta, despoluído, onde se podem ver as estrelas e as noites enluaradas, que inspiraram tantos poetas que o cantaram nos seus versos!!!

O Grande Rio, que originou o grande lago do Alqueva, dá-te agora mais frescura, mas deixou submersas muitas histórias do passado, raízes de muitos de nós, Povo Transtagano, mistura de tantas raças, tantas crenças e tantos saberes!!!

Tive ocasião de comprar e ler um livro escrito por um alentejano de São Manços, que é meu colega das lides académicas – o António Murteira  –  que tem o titulo de “Adeus Azules”. É um hino a este Al-Andaluz e á vida desse rio Guadiana, desde a sua nascente até à sua foz. Pinceladas de poesia. As suas margens, as vivências das suas gentes, a sua flora e fauna, as suas águas carregadas de sonhos, de emoções e de amores profundos. Os sentimentos de um escritor/poeta alentejano, que ama a Terra onde nasceu!!!

Tenho lido mais, sonhado mais contigo meu Alentejo, aqui longe, onde tantos gostariam de te conhecer, sem nunca poderem ser alentejanos. Ser alentejano está na Alma e na génese daqueles que tiveram o privilégio de nascer e viver neste imenso País do Sul…

 

António José Zuzarte, Costa da Caparica, Janeiro de 2018.

One thought on “Longe do Alentejo

  • 12 de Fevereiro, 2018 at 14:06
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    Meu amigo, é um prazer ler as tuas crónicas sobre o teu Alentejo saudoso.

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