Capital do Rock

O Jornal Público apresenta um trabalho sobre a última exposição do Museu de Almada sobre o Rock.

Mesmo que o Museu se chame da Cidade de Almada e afirmações da Coordenadora-Chefe Ana Costa – curiosamente caparicana, remetam de imediato para os Gatos Pretos, da Trafaria e nem sequer refiram a essência caparicana dos UHF, enfim, já estamos habituados a este colonialismo almadense, travestido de vermelhuscos esquerdismos anacrónicos com a praxis.

A verdade é que Almada, o concelho, assim como a Margem Sul, sempre teve um papel destacado neste tipo de música, extendido nos tempos que correm para o Hip Hop.

A Gandaia, sempre apostada nas convergências, naquilo que une, associou-se a esta iniciativa – sem fazer alarde – e organizou também o seu Ciclo de Cinema, que pode consultar clicando aqui.

Como de costume, transcrevemos o artigo de Rodrigo Nogueira, com a devida vénia, de forma a perdurar pelos tempos.

Almada, a margem do rock em quase 60 anos de histórias

Na Margem: Uma história do rock é uma exposição que traça a história do rock almadense desde 1961. Está patente no Museu da Cidade de Almada desde Janeiro e ficará lá até Setembro.

Quando chegou a Portugal em 1963, vindo de Moçambique e Angola, Victor Gomes procurava uma banda de rock’n’roll para o acompanhar. Foi logo à Trafaria encontrar-se com os Gatos Negros, sobre os quais o músico e apresentador João Maria Tudela lhe tinha falado. Não foi à toa que um dos reis do rock português, um fenómeno que passou pela rádio, pelos palcos, tanto da música quanto da revista, e pelo cinema, rumou à Margem Sul do Tejo. A cidade de Almada tem sido, ao longo dos anos, pródiga em bandas rock.

É isso que se pode ver em Na Margem: Uma história do rock, a exposição que se pode ver no Museu da Cidade de Almada, na Cova da Piedade, até Setembro. Dividida em dois pisos e centrada em três períodos diferentes — de 1961 a 1977, de 1978 a 1989, e de 1990 a 2004 —, a exposição reúne artefactos de cinco décadas de rock ali nascido. Vai dos tempos dos já mencionados Gatos Negros, dos bailes, das festas associativas e das influências dos Shadows, até ao hardcore, com psicadelismo e punk pelo meio.

Podem ver-se em Na Margem discos, sejam da música da terra ou de inspiração, revistas, posters, bilhetes, guitarras — muitas da marca italiana Eko ou réplicas, algumas artesanais —, roupa, maquetas, cadernos de poemas, bonecos, fotografias e até um documentário de uma hora com depoimentos de alguns notáveis da cena musical almadense.

A preparação da exposição começou em 2017. Ana Costa trabalhou em parceria com Ângela Luzia e Margarida Nunes neste projecto em que estiveram envolvidas ao todo 130 pessoas. Ela própria almadense, teve uma adolescência que passou pelo Ponto de Encontro, um lugar-chave da cena musical da cidade nos anos 1990.

Como tudo começou

A ideia nasceu, partilha, de outras exposições: “O rock é um fenómeno muito associado a Almada. Noutras exposições que temos preparado, era recorrente haver referências a isso ou a algum músico que pertenceu a uma banda.” Como o Museu da Cidade traça a história da localidade, acharam “interessante tentar perceber onde é que isto começou em Almada” e explorar “a ideia que as pessoas de fora têm de uma certa especificidade suburbana, com um som mais escuro e pesado”.

Para preparar tudo, fizeram entrevistas prospectivas sobre histórias que já conheciam, como a de Victor Gomes na Trafaria. “Os Gatos Negros foram a banda que, com o som que se fazia e que era muito consumido aqui, conseguiu fazer a passagem de banda de baile para um conjunto de rock’n’roll. Nos jornais da época, a primeira vez que é apresentada uma banda de rock’n’roll são eles.”

Feitas essas primeiras entrevistas, começam a procurar mais material na imprensa e nos “arquivos de colectividades, que é onde as bandas acabavam por se apresentar”, e a falar com pessoas para encontrarem testemunhos orais. “As próprias pessoas foram-nos dando folhetos, documentos, contratos com editoras”, diz.

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