Desolador: Praias sem areia, acessos em ruínas

AcessosPraia002Quem vá às praias da frente urbana sofre um choque. Têm muito menos areia, são praias que só se mantêm nos cantos dos esporões e, pior ainda, com os acessos em ruínas, na sua maior parte sem permitirem o acesso à praia. Os banheiros ficam nesses cantinhos – mal se vê a bandeira, com meia dúzia de chapéus de sol a evocar tristes trópicos.

Isto são os meus olhos de verão, que pensam na areia como praia. Porém, todos sabemos que a areia é a melhor proteção para a força do mar no Inverno. Como irão ser as próximas tempestades?

Mais do que simplesmente desolador: assustador.

Temos a terra completamente desordenada, com decisões que não se compreendem, mas cuja irracionalidade se vai acumulando: O terminal do Transpraia enterrado na areia lá longe, só para quem já o conhece, roubando também essa atração à cidade; o Largo das Tábuas continua a ser outra desolação, onde outrora ficava o terminal do Transpraia, mas onde também existia um campo de futebol de praia onde se disputavam torneios e campeonatos, um recinto onde se emitiam os programas de televisão que correm as praias portuguesas todos os verões e até um carrocel para as crianças. Agora, é um mar de tábuas retorcidas que partem os dedos aos incautos.

Nenhuma animação porque, para mal dos nossos pecados, para a Câmara Municpal de Almada animação é em Almada, cultura é em Almada. Ainda nem sequer compreendeu que perdendo a Costa, perde também Almada. Que investir na Costa é investir em Almada.

O mesmo se pode dizer do Posto de Turismo, pessimamente sinalizado e confrangedor na ausência de material sobre a Costa da Caparica. Só há Almada. Uma Galeria de Arte sem funcionários nem exposições, um Centro Interpretativo fechado, só por marcações. É esta a conceção municipal de turismo?

Aquilo que esteve para ser um hotel de 5 estrelas, vai agora ser um parque de estacionamento, e mesmo ao lado, na mesma área considerada de luxo, plantam um quartel da GNR. É isto gestão do território?

Instalam parquímetros em certas zonas como se as suas ações fossem acatadas por um povo nórdico e não tivessem uma reação própria de portugueses, ou seja, desenrascarem-se, estacionando por onde haja um buraquinho, criando o caos no estacionamento por tudo quanto é ruela, impossibilitando o trânsito por todo o lado, incluindo o regular abastecimento do comércio.

A Câmara queixa-se do Metro não vir à Costa da Caparica, mas exigiu que as duas primeiras fases fossem… adivinhem… em Almada. Queixa-se do CostaPolis como se não tivesse 40% da responsabilidade. CostaPolis esse que constrói um paredão junto ao mar proibindo esplanadas! Caramba, isto é loucura!

Bem sabemos que está a desenvolver esforços, a tentar concertar agentes para o turismo – que é uma forma de exportação, recorde-se – a tentar emendar os magotes de contentores fedorentos de lixo, mas falta-lhe claramente a força da coerência e convicção que teve noutros locais do concelho e que mudaram mesmo, como o Feijó, por exemplo. Aqui, estes arranjos tímidos soam a falso, sabem a ano de eleições. Qual é a racionalidade das obras nos passeios da Avenida da República com a Avenida 1º de Maio? Que prioridade naquele gasto?

Por seu lado, a Junta de Freguesia, paralisada há anos, acha que a necessária animação é uma barraca com livros de refugo. Compare-se esta posição com a recente iniciativa de Óbidos que tenta chamar a si dezenas de livrarias, e, claro, leitores, pessoas, economia…

Acha também que é a Junta quem tem de se financiar com estas iniciativas e com a venda ambulante, sempre desorganizada, não assumindo responsabilidades quer com a animação própria de uma estância balnear, nem reponsabilidades para com os comerciantes que pagam taxas e rendas todo o ano, nem responsabilidade com os seus fregueses que, apesar de tudo, pagam o salário a mais de duas dezenas de funcionários.

O Concurso de Caldeiradas, uma das suas poucas iniciativas, tem uma promoção ínfima e cada vez menos participantes, estando os restaurantes a optar por iniciativas próprias e isoladas. O que quer significa isto?

Por outro lado, só o Presidente da Junta, do mesmo partido do governo, se revoltou corajosamente contra a anulação da reposição das areias. Honra lhe seja feita. Estamos em Julho e só ouvimos o candidato do PS à Câmara a propor que sejamos a capital do Surf. Até organiza limpezas de praia, o que é bastante simpático e necessário. Mas até quando teremos praias? O candidato à freguesia do mesmo partido ainda anda a divagar pelo século XIX num jornal local. A candidatura do PC à freguesia está refém da Câmara e o CDS perde o mandato por faltas de comparência, não se conhecendo ainda o seu candidato, assim como não se conhece o candidato do Bloco de Esquerda.

É ou não é desolador?

Agora diga-me lá, caro leitor – paciente – deste meu desabafo, ponha-se nos sapatos do decisor: se tivesse o caro leitor a ingrata tarefa de decidir se punha areia nas praias desta cidade ou nas de Albufeira, no Algarve, o que fazia?

One thought on “Desolador: Praias sem areia, acessos em ruínas

  • 28 de Junho, 2013 at 10:29
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    Leeram a minha mente?? Além disso tudo, se a Costa da Caparica é ‘cidade’, porque não tem nem sequer uma biblioteca, um notariado, um centro de emprego e p.e. estacionamento para as bicicletas em pontos centrais (e não só o pé da praia!) Tanta coisa que falta!!!

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