25 de Abril

Recebemos da nossa amiga Graça Magina, membro da Tertúlia de Poesia, este poema sobre o 25 de Abril:

 

Vai-te poesia!
Basta!

Não vês como
estamos aqui?
Olhar de falésia
mãos de água
que nada agarram
nem os destroços
por entre as lágrimas?

No areal que avistamos
treinou para Alcácer-Quibir
D. Sebastião as tropas

Não voltaram!

Pelos nevoeiros da praia
vagueiam os fantasmas
Pelas ondas o galope dos cavalos
ressoa cá dentro na alma

Não vês como
aqui estamos?
Nenhuma ave
Nenhum barco
Já não se sonha
Já não se parte
Ficámos todos partidos
por dentro

Onde habitam os desejos
de rotas de ouro e especiarias?
A canela a pimenta
o prestígio?
Somos um povo que descobriu
o caminho do mar até à Índia
e depois à toa foi perdendo
tantos caminhos…
Por desgoverno e muitos roubos

Onde guardamos
as cinzas e o respeito?

Vai-te poesia!
Basta!

Não quero que venhas
com teu ar delico-doce
falar de amor de gemidos
de saudades
Não quero que rimes por rimar
Não quero que faças discursos de palavras
para em inteligente te armares

Se vieres
vem
do mais fundo lugar
que nos liga da terra ao universo
e iça-nos! Como velas
enfrentando o oceano

tantos poetas te disseram nesta pátria
até camões de ti fez a própria pátria
Pessoa o nosso ser
Ary a nossa espada
e tu que tens para nos dizer agora?

Neste mês de abril
mês do povo
em que o cheiro a cravo
se mistura com cheiro a desagrado
basta!
Vai-te poesia!
A vires de volta vem ao rubro
não para seres dita
mas para nos dizeres
e nos tornares
no poema vivo que nós somos!

 

Graça Magina

Notícias da Gandaia

Jornal da Associação Gandaia

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