Meia-Lua a Degradar-se

MeiaLuaDegradadoQuem se passeia pelo paredão junto ao mar das praias da Costa da Caparica, não pode deixar de reparar no Meia-Lua chamado (A Mar A Costa) que se encontra no areal e próximo dele um senhor que todos os dias se senta a remendar redes de pesca.

Há muito tempo que o dito barco desperta a minha atenção e a atenção de locais, veraneantes e turistas e praticamente, toda agente o fotografa pelo seu aspeto típico.

De ano para ano, têm-se notado uma degradação rápida do Meia-Lua, que entristece e revolta principamente os Caparicanos e quem ama a Costa.

Eu não fico indiferente a essa tristeza e tentei saber o porquê de tal situação e entabulei conversa com o Senhor António conhecido por o “Alemão”, no fundo o homem que mais companhia faz ao já decrépito Meia-Lua.Alemão

Conversando com este velho lobo do mar de 84 anos e uma vida inteira dedicada à pesca, soube a história do Meia-Lua, da vida dele e algumas curiosidades sobre os vários modos de pesca na Costa da Caparica.

Segundo me disse o Senhor António, há cerca de 3 anos, dois sócios decidiram fabricar este barco típico da Arte-Xávega, unicamente para que ficasse exposto na praia como símbolo da pesca desta terra e que custou cerca de 700 a 900 contos. Aparentemente, o material utilizado na sua feitura era de pouca qualidade (madeira cozida) o que explica a rápida deterioração do mesmo, até porque, tempo depois, os sócios tiveram  desavenças e o barco ficou ao abandono sem manutenção. Dizem-me que parece os trabalhos de recuperação vão ter agora início pela mão pelo senhor João.

A conversa com o (Alemão) sobre o barco ia-se desenrolando, cruzada coma história do próprio, que segundo soube nasceu no antigo Bairro dos Pescadores (Rua 15) e teve dois irmãos. Ele nunca frequentou a escola, tendo-se dedicado à pesca desde os 9 anos de idade. Diz ele que era uma vida dura, só pescavam quando as marés o permitiam e tem frases muitos próprias, por exemplo “na Praia-Mar é mais pesado, na baixa mar é leve, é terreno”, “o peixe é que manda” ” quem tivesse fome não comia”…

De verão ganhava-se algum dinheiro, que se tentava amealhar para o inverno, mas nunca era suficiente, recorria-se a outros tipos de pesca de inverno, tais como a pesca ao polvo chamada (pucras) à sardinha (pesca à malha) que se faz, partindo de terra a chata que larga a malha no mar enquanto os pescadores esperam creca de hora e meia a duas horas, entretendo o tempo, depois sobem-na e despejam-na na chata tantas vezes as necessárias para a encher e voltar a terra. Há a pesca ao linguado (rede de linguado) e às redes dá-se o nome de ” malhas”. Uma rede de malhas tem o nome de” estremulhos”e as redes têm pontas que unem outras malhas chamadas “cadilhos.”

Tentei que ele me contasse episódios que tivessem cariz dramático, de uma vida passada na crista das ondas, mas ele diz que muitas vezes, ele e os companheiros naufragaram, mas nunca nenhum que o acompanhou pereceu num naufágio, apesar de muitos não saberem nadar, nem usarem coletes. Ajudavam-se uns aos outros e que aos sustos que tantas vezes apanharam, não lhes podiam dar importância, porque se muito pensassem, nunca mais iam ao mar e não havia outra forma de assegurar o pão, entregavam a alma a Deus e resignavam-se a um destino do qual não havia fuga possível

Hoje com 84 anos, senta-se junto ao decrépito Meia-Lua a remendar as redes da arte do neto, que lhe seguiu as pisadas, o que faz com agrado com uma face que irradia simpatia, sapiência e acima de tudo, uma tranquilidade nuns olhos azuis que lhe tenha valido a alcunha de Alemão.

accleme

Designer Gráfico

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Pin It on Pinterest