O Rei dos Mares

ReiMares   Uma das formas de relaxar nos poucos tempos livres que retiramos do nosso dia a dia, baseado num corre-corre alucinante, é ir até às praias da Costa da Caparica, deslumbrar-se com o espetáculo que proporciona a chegada das redes de pesca da arte-xávega, forma de pesca típica desta região, oriunda de Ílhavo e do Algarve. Deliciam-se todos os nossos sentidos ao ver, ouvir, tocar e cheirar a chuva prateada arrancada ao mar.
O que para uns é trabalho árduo e muito mal pago, pese embora a total entrega e, arrisco a dizer, amor com que todos os dias enfrentam o mar sempre na esperança de um lance frutuoso que lhes proporcione um Inverno mais folgado, para os que assistem é como ir a uma sala de cinema, desfrutar de um espetáculo sem pagar bilhete nem ter horas de entrada ou saída, tendo ainda a hipótese de ali mesmo no meio do areal adquirir peixe fresquíssimo, que ao chegar a casa e sendo imediatamente confecionado lhes dá a agradável surpresa de um sabor único e ímpar.
O Rei Dos Mares, uma chata primorosamente pintada de branco e azul e decorada com um elegante Golfinho, é pertença desde há cerca de dez anos de Paulo Martins e do seu irmão, tendo sido comprada a um tio que deixou as lides da pesca definitivamente.
O Paulo tem cerca de 48 anos, nasceu na Costa da Caparica, filho e neto de pescadores (o avô era o pescador Vitorino). Frequentou a escola primária da Costa e da Trafaria e fez o secundário no Pragal. Por volta dos 12 anos começou com o pai a ajudar e a aprender esta difícil e árdua arte, chegando à conclusão que seria esta a sua forma de viver e sobreviver.
Durante a nossa conversa, que ocorreu entre a partida da chata para largar a rede ao largo da praia e a chegada da mesma, sendo hoje em dia puxada por tratores com alguma ajuda humana na reta final, o que não acontecia há alguns anos atrás, em que todo o trabalho era braçal, sendo que de cada lado da corda da rede se juntavam cerca de duas dezenas de homens e mulheres, que com muito esforço e determinação faziam chegar intacta a imensa rede ao areal, o Paulo pareceu-me de alguma forma satisfeito com este modo de viver, salientando porém, com alguma revolta, o fato de no verão terem um horário estipulado por lei, que é das 18H30 às 22H30 para a sua faina, por causa da época balnear, em que as praias são de certo modo pertença dos veraneantes que por falta de informação sobre serem estas praias locais de pesca, se sentem incomodados quando estendidos nas suas toalhas e são surpreendidos pelos tratores barulhentos, com rodas assustadoras que lhes impede o sossego que pretendem num dia de verão.
O Paulo salienta que nada tem contra os veraneantes, acha sim que deviam estar melhor informados sobre o fato de ali se processar este trabalho e para além disso, como já acontece em outros locais do género, devia haver placas de sinalização, deixando claro que esta é uma zona de pesca, já que existem regras que não lhes permitem pescar em todas as praias da frente urbana da Costa da Caparica.
No inverno as restrições são menores à interdição de certas praias e o horário é alargado, pena é que só o possam fazer, por pouco tempo, dependendo do estado do mar, dado que entre Novembro e Abril os temporais de inverno não permitem a faina piscatória!
É rude esta forma de vida e nunca os pescadores sabem, por muito que pensem conhecer o mar que os sustenta, qual o dia em que o mesmo os trai e lhes roube a vida, mas acima de tudo na minha modesta opinião está um grande fascínio por esta forma de vida em comunhão com as areias e o mar.

accleme

Designer Gráfico

One thought on “O Rei dos Mares

  • 2 de Dezembro, 2014 at 12:56
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    Uma arte antiga, nobre e mágica…

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