Uma tarde diferente

TardeUma tarde diferente…

Nem sempre temos oportunidade, sem pressas, de percorrer a pé, uma zona que não conhecíamos, principalmente os locais onde hoje, dia 22 de Março, já Primavera, passámos a tarde… junto aos velhos estaleiros da Lisnave, onde estacionámos o carro, para exames médicos da minha mulher Teresa no Hospital Particular de Almada, enquanto esperava, parti à descoberta…

Primeiro um bom almoço no restaurante da Tia Bé: umas óptimas lulas grelhadas, uma cerveja para refrescar e depois uma mousse de chocolate, bem densa, de chocolate negro, e como remate um descafeinado…Desde a rapidez e eficiência do serviço, à simpatia da elegante mulata de origem cabo-verdiana, mas nascida neste rectângulo peninsular, ficou aprovado o local, pela qualidade/preço, só 9 euros, razão para a casa cheia, embora o espaço não seja  muito amplo.

Já almoçado rumei pela rua principal, no sentido oposto a Cacilhas, onde encontrei bastante comercio e fui parar a uma livraria, daquelas que já não é fácil encontrar todos os dias, pelo menos em locais conhecidos, excluindo Lisboa…o seu nome aqui o deixo: Livraria Escriba, na rua Cooperativa Piedense, com tantas obras disponíveis, optei por um livro do escritor, meu amigo e colega do antigamente em Santarém, o Ruy Duarte de Carvalho que a morte já levou em 2010, um dos seus livros sobre a imensa Angola, o seu Sul, o deserto do Namibe, que o escritor António Mega Ferreira assim analisa: « Um livro dificilmente classificável, porque simplesmente mágico: VOU LÁ VISITAR PASTORES é uma “exploração epistolar” sobre as idas e vindas do antropólogo pelo território Kuvale, que se estende para sul passando além do meridiano de Namibe (a antiga Moçâmedes) até às margens do Kunene – uma poética dos nomes e dos lugares.»

A tarde foi correndo e eu caminhando, admirando os restos de um antigo empreendimento, a Lisnave, que terminou no tempo e que espera algo de novo… No restaurante da Tia Bé, onde não comi cachupa, mas que fazia parte da ementa, sonhei com África e li na parede junto à minha mesa: Nhá Mãe – Bô  qui cuidá di bôs fidjo sempre cum sorriso di mel no bós odjos cansado di luta, dixa bós fidjos chomabô di Nhá Rainha… e lembrei-me de Cesária Évora, a sua voz, os seus poemas… aquele crioulo escrito na parede e aqueles graffits cá fora, como um chamamento… a que não resisti.

Nunca se perde tempo, alguma coisa se aprende todos os dias se abrirmos a mente e deixarmos entrar o mundo, o inesperado, o desconhecido…a Vida.

 

António José Zuzarte, Costa da Caparica, 22 de Março de 2016.

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