Hércules Ataca CostaPolis
Não foi só na Costa da Caparica. Todo o litoral Português sofreu as difíceis condições do mar, cujas ondas varreram inúmeras localidades, provocando diversos e lamentáveis estragos.
Na nossa terra, desde a Cova do Vapor até à Fonte da Telha o mar avançou, alteroso, com ondas de dimensões e violência inusitadas. Todos pudemos ver as imagens nos diversos serviçoes noticiosos dos canais televisivos portugueses.
Na Cova do Vapor, além do mar ter entrado em algumas casas, pedras e barcos foram arremessados para terra. Na frente de praias, a falta de areia, que é a falta da nossa principal defesa, permitiu que o mar ultrapassasse o paredão e, nas zonas das inconcebíveis tábuas, estas foram arrancadas, especialmente em frente ao Tarquínio e mesmo ao longo do edifício da Polícia Marítima e Posto de Turismo.
Realmente, as críticas que têm sido apresentadas contra esta solução arquitetónica do tabuado, para além de todos os outros aspetos elencados, surge agora mais este, que, comprovadamente, se verifica. NÃO, esta não deveria ter sido uma solução para a Costa da Caparica!
É imprescindível que as entidades responsáveis – todas elas – reflitam nestes tristes acontecimentos e possam tomar medidas que previnam, não só estes acontecimentos mas, infelizmente, futuros incidentes muito piores.
Desde logo, retomar o trabalho de reposição de areia, a terceira fase, que todos sabem ser indispensável. Como foi, de resto indicado claramente pelos técnicos, caso não seja completado esse trabalho, é como se não tivesse havido nenhum.
A grande diferença entre as sociedades desenvolvidas e aquelas que ainda se defrontam com estados incipientes de organização é precisamente esta: a capacidade de previsão e de planeamento do futuro. A capacidade de compreender as suas necessidades, de criar um inventário de medidas que venham resolver os problemas, melhorar as condições de vida e criar um futuro melhor. Em suma, desenhar um plano, uma estratégia.
É isto que tem de ser feito. É preciso que esse trabalho seja visto como um meio para atingir este fim e não como um belo emprego e umas magníficicas oportunidades de negócio para uma meia dúzia de nababos – a meia dúzia do costume.
É neste epílogo da tempestade Hércules que devemos refletir sobre a extinção da CostaPolis.
Ela significa que, por não haver dinheiro, se considerou que já não será possível criar as tais oportunidades de negócios e não haverá possibilidade de distribuir empregos a troco dos apoios do costume, quer dizer que os rapinantes têm de voar para outro lado onde essas condições se possam verificar.
Porém, para todos nós, residentes da frente atlântica do Concelho de Almada, o Polis não era nada disso. Era uma oportunidade para resolver problemas. Problemas que ainda temos, pois como se sabe, dos sete planos de pormenor (ou oito se contarmos com o prévio) apenas dois foram concluídos, e foram-no desta forma que descrevemos, sem respeito pela identidade local, sem respeito pelas características do local, usando materiais e soluções que em vez de resolver problemas e oferecer melhores oportunidades, pelo contrário, era perfeitamente evidente que iriam levantar novos problemas e criar novos constrangimentos – como se pode agora ver, apenas cinco anos depois.
Além de se exigir responsabilidades, deve-se exigir intervenção do Tribunal de Contas, da Procuradoria, enfim, de todas as entidades que possam trazer justiça à nossa terra, repondo a normalidade duma evidência que se está a tentar ocultar: A Sociedade CostaPolis foi criada para um determinado objetivo. Porque não foi atingido esse objetivo? Para onde foi o dinheiro? Porque razão foram escolhidos estes projetos arquitetónicos e não outros?
Ninguém está interessado em exigir uma AUDITORIA?
Chama-se a Autoridade Marítima, os Bombeiros e a Proteção Civil e veda-se o acesso ao paredão… e pronto, vamos para a caminha descansados?
O filme feito por Manuel Fonseca (clique aqui para ver), entre outras coisas, demonstra como estamos expostos à fúria do mar. Podemos ir para a caminha, mas o descanso é apenas uma ilusão. Mais tarde ou mais cedo, vamos acordar e ser obrigados a enfrentar a realidade. Além de termos um território desorganizado, onde foram implementadas soluções que não ajudam as populações, temos um enorme problema de proteção ambiental para resolver.
A estratégia da avestruz não resulta. Não é assim que se protege o património. É preciso procurar soluções. Daquelas que resolvem problemas.