Prejuízo Incalculável
Há várias situações em que é fácil calcular os prejuízos. Por exemplo, os custos dos estragos do mar nas nossas infra-estruturas após a tempestade Hércules em 2014 e que a Câmara de Almada, em parte, suportou.
Outros, motivados pela omissão, pela inacção, em que não se faz o que devia ser feito, esses prejuízos são dificílimos de calcular. Talvez mesmo impossíveis. Um destes casos teve a ver com o espólio do pintor José Manuel Soares, Mestre José Manuel Soares, com vários quadros sobre a Costa da Caparica, a maioria retratando imagens dos seus pescadores. Imagens essas que ainda hoje são sempre evocadas para nos representar.
Qual será o custo de NÃO ter feito NADA para manter esse espólio e fundar um museu na Costa da Caparica? Incalculável.
Estamos sempre a ouvir falar sobre a importância de manter os nossos visitantes mais tempo na nossa terra, expandir a visita para além de uns mergulhos no mar. Mas para fazer o quê? Comer, sim, sem dúvida, estamos recheados de cafés e restaurantes, mas mais nada.
Se esquecermos os gloriosos resistentes da Gandaia, claro, que do seu voluntarismo fazem nascer um calendário de atividades partindo do zero absoluto.
A família de Mestre José Manuel Soares tentou alcançar um acordo com a Câmara de Almada, mas não foi possível. Pedia apenas um subsídio mensal vitalício de 1500,00 euros. Sim, apenas. Quantos funcionários terá a Câmara que representam essa despesa mensal e que, talvez não tragam qualquer retorno visível? Fazer um Museu na Costa da Caparica seria decerto uma boa estratégia para atingir o tal objetivo da permanência de visitantes. Mas não. Porquê?
Infelizmente, esta cegueira atingiu outras Câmaras. Leiria, por exemplo, onde Mestre José Manuel Soares chegou a residir para fazer uma grande exposição de pintura, também não se decidiu. Idanha-a-Nova, autarquia a que pertence Monsanto, que também foi pintada pelo Mestre, negociou durante algum tempo, mas deixou cair o processo.
Acabou por ser Pinhel, no distrito da Guarda, a criar um espaço – condigno – para albergar todo o espólio de Mestre José Manuel Soares. Se desejarem ver as telas do Mestre, é visitar a “Cidade Falcão”.
Há um artigo interessante de Luís V. da Mota que conta as vicissitudes deste caso. Basta clicar aqui ara ler. Para ver o sítio do Museu José Manuel Soares, em Pinhel, é só clicar aqui.
O prejuízo da Costa da Caparica (e Almada) em não ter ficado com este espólio? Incalculável.
Infelizmente, o País e a Arte ficaram mais pobres.
https://radiomonsanto.pt/detalhe-noticia.php?id=1505
Com alguma revolta, só questiono se – à boa maneira tradicional – será depois de falecido que o Mestre será devidamente reconhecido.
Fernando Barbosa Ribeiro
(“afilhado” – nunca baptizado – do casal Soares)