5 Anos à Espera de Areia
O cenário deste ano na Costa da Caparica, em Almada, é semelhante ao dos Invernos anteriores: com cada vez menos areia, o vazio vai sendo substituído pelo avanço do mar. Só na praia de S. João da Caparica, o cordão dunar recuou 20 metros nalgumas zonas, desde o início do ano. Apesar de nos meses de Verão, o bom tempo levar a um aumento da área do areal, esta não regressa na mesma proporção. A solução das últimas décadas passa por encher artificialmente a praia com areia. No entanto, 2009 foi o ano da última intervenção. Veloso Gomes, coordenador do projecto de reabilitação das obras de defesa costeira e de alimentação artificial das praias da Costa da Caparica, assume que a recolocação de areia naquelas estâncias deve realizar-se “num em intervalos máximos de 3 a 4 anos para que a zona se mantenha controlada”.
Entre 2007 e 2009 foram colocados 2,5 milhões de metros cúbicos de areia nas praias da Costa da Caparica. Uma terceira intervenção de mais um milhão de metros cúbicos, prevista para 2011, acabou por não acontecer. O presidente da Junta de Freguesia da Costa da Caparica, José Carlos Martins [José Ricardo Martins], lembra que, na época, técnicos do Instituto Nacional da Água (INAG), actualmente integrado na Agência Portuguesa do Ambiente (APA), decidiram que a operação não seria necessária. “É óbvio que essa última intervenção era necessária. Se tivessem sido seguidos os trâmites legais, provavelmente não teríamos a praia em tão mau estado”, explicou ao i.
As ondas de cinco a seis metros que aconteceram nos últimos dois meses destruiram o paredão da praia do CDS e a força do mar provocou estragos em restaurantes e bares da costa, ameaçando até os parques de campismo da zona.
João Alveirinho Dias, especialista em dinâmica sedimentar para as zonas costeiras, explica que o grande problema das praias portuguesas é a falta de areia, não só na Caparica, como em toda a área costeira nacional. “A intervenção humana impede a circulação normal da areia para as costas e Portugal continua a actuar como um bombeiro, nas alturas de aflição, e não num sistema de medicina preventiva, que seria a ideal”.
O especialista critica a forte contrução ao longo do litoral. “Foi nos anos 80 que começamos a perceber que tínhamos um problema de erosão costeira e, curiosamente, foi precisamente nessa altura que se começou a construir nessas zonas”, explicou.
O bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Matias Ramos, considera que o país tem condições para fazer uma alteração costeira eficaz, mas para isso “é preciso que se perceba que as soluções mais eficazes podem ser também as mais inconvenientes”. O responsável sublinha que, ao longo de décadas, “as propostas sugeridas pelos especialistas, incluindo a construção de esporões, têm sido ignoradas, porque a parte paisagística sempre foi a mais privilegiada”. Para Carlos Matias Ramos a intervenção tem que ser global e integrada, tendo em conta “o impacto fraco que as medidas locais têm tido nos últimos anos”.