Marcha da Costa
A poucos dias da Marcha Popular da Costa da Caparica sair para a rua, o ambiente é de grande agitação. À noite, ensaiam no campo de futebol, perto do Grupo de Amigos da Costa da Caparica. Depois das mulheres e raparigas experimentam as socas que acabaram de chegar, o grupo reúne-se em roda a ensaiar a letra.
O tema, escolhido pelo ensaiador Luís Coimbra, é “Costa, uma casa portuguesa”.
A Marcha Popular da Costa da Caparica, este ano, é composta por 48 marchantes, 8 músicos, 6 aguadeiros, 2 pares de mascotes, 1 porta-estandarte e 1 par de sobresselentes. Os marchantes dividem-se em volantes e marchantes de arco.
Os padrinhos da marcha são figuras conhecidas do público, Kátia Aveiro e Rúben da Cruz. O ensaiador não tem dúvidas que desta vez vão conseguir atrair mais atenção do que noutros anos, em que os padrinhos costumam ser gente do fado.
Luís Coimbra, natural da Costa, 38 anos, é o ensaiador desta marcha há sete anos. Começou como marchante da Marcha da Rua 15 e logo percebeu que levava jeito, por isso seguiu os passos do antigo ensaiador e assumiu o “comando” da Marcha Popular da Costa da Caparica. A sua mulher, filho e irmão acompanham-no nestas andanças, como marchantes. É Luís o responsável pela coreografia e música da marcha.
Mas a marcha da Costa não saía para a rua sem os figurinos de Ana Marques, estilista, de 47 anos, natural de Lisboa. Embora o tema parta do ensaiador, é a estilista quem desenvolve o conceito.
Ana Marques considera que “essa é a parte mais gira, a da pesquisa, pensar como é que vamos representar a ideia, realizá-la, no fundo.” Como é um evento de cariz popular tem de ser bem colorido e alegre.
A trabalhar há cerca de 20 anos como estilista e chegou ao mundo das marchas por indicação de uma amiga. “Até essa altura (há cerca de 6 anos) não tinha feito nada relacionado com marchas, não fazia a mínima ideia do que isto era. No 1º ano foi um bocadinho à base da experimentação, mas correu bem”.
O mais difícil é a gestão, mas com os anos aprende-se a contornar o stress dos últimos preparativos. “Inicialmente tirava as medidas muito certas, agora faço vários tamanhos, encaixo-os neles e faço os apertos. Faço 2 ou 3 roupas a mais, porque há sempre improvisos de última hora para me precaver”. A Marcha da Costa já foi premiada com o Prémio Figurino.
Ana Isabel Marques tem, atualmente, um ateliê em Santo António, Trafaria. Neste espaço, faz criações únicas e exclusivas e também já colaborou com produções de teatro.
Fernando Costa, o marchante mais antigo, guarda, em casa, as roupas (figurino completo) e as letras de todas as marchas em que participou, “com o que tenho dava para fazer uma exposição”.
Fernando tem 39 anos e participa na Marcha da Costa pela 17ª vez. Começou por sugestão de amigos e desde aí não parou mais. Mesmo o ano passado, quando a Costa já não foi a tempo de integrar nas Marchas de Almada, Fernando participou na Marcha dos Figueirinhas. Com o mesmo ensaiador, “a marcha ficou em 3º lugar, o que até aí nunca tinha conseguido alcançar.”
Funcionário da Câmara Municipal de Almada, para além de ser marchante, Fernando também faz as montagens, para a grande final de Marchas Populares de Almada, no Complexo Municipal dos Desportos, no Feijó, na noite de 4 de Julho. Com uma semana de antecedência começam a montar o palco, tapar o chão e decorar o espaço com manjericos e afins.
O que mais gosta neste mundo é o próprio desfile e lamenta o facto das Marchas de Almada não passarem na televisão, como acontece com as de Lisboa.
Patrícia Aires, de 10 anos é a marchante mais nova e já leva 4 anos de Marchas. A sua dedicação é bem visível, nos ensaios da música vai dançando, enquanto canta as letras, já sem papel. A mãe e o irmão, de 15 anos, também participam na marcha.
Os ensaios começam em Maio. No entanto, Luís Coimbra ensaia também a Marcha da Ajuda (desde há 3 anos), e foi a esta última que teve de dar prioridade, uma vez que as Marchas Populares de Lisboa já aconteceram a 12 de Junho. Esta questão acabou por levar a um atraso nos ensaios da Marcha da Costa, mas toda esta adrenalina dos últimos preparativos faz parte do espírito.
A Câmara Municipal de Almada atribuiu 12000 € a cada marcha e a Junta de Freguesia da Costa da Caparica também contribuiu com uma ajuda.
Em 2014, no Desfile das Marchas Populares em Almada, a Marcha Popular da Costa da Caparica ficou em 2º lugar, ganhou o Prémio Avenida e Arcos. Em 2015, não saiu para a rua.
Resta-nos aguardar até 4 de Julho, próxima quinta-feira, para saber qual será a classificação este ano.
Mas antes ainda pode ser vista na noite de São João, a partir das 22h, na avenida de Cacilhas. E a julgar pelos versos que aqui se ouvem, promete.
“ Oh Costa!
Minha casa tão castiça,
De paredes de caliça,
Pintadas de azul do mar.
Oh Costa!
Dos craveiros à janela,
Mais o sol que entra por ela,
Cada dia a te beijar.
Oh Costa!
Paisagem pintada à tela,
Uma linda aguarela,
Que foi Deus que nos quis dar.
Exclama o Santo lá do alto com surpresa:
– Costa teu retrato é uma casa Portuguesa!”