Viva Portugal em Almada
A exibir em Almada, o documentário «Viva Portugal»: o primeiro ano após o 25 de Abril.
No Estúdio da Academia Almadense, no próximo dia 30 de Abril, às 21h00 – entrada livre.
Estará presente Malte Rauch, um dos realizadores, com quem será possível debater o documentário no final da sua exibição.
Viva Portugal é a crónica de um ano de Revolução. O filme, rodado de Maio de 1974 a Maio de 1975, abre com imagens do 25 de Abril transmitidas pela televisão portuguesa e termina com a manifestação do 1º de Maio de 1975. Um ano de esperanças e de lutas que por algum tempo colocaram Portugal na ribalta da opinião pública europeia.
Viva Portugal foi apresentado em vários países, nomeadamente na televisão e cinemas alemães, em França (em Paris foi cartaz durante várias semanas), em Espanha, clandestinamente, ainda durante o regime de Franco, e EUA.
Um filme de: Malte Rauch, Christiane Gerhards, Samuel Schirmbeck, Serge July
Imagem: Martin Bosboom
Versão portuguesa digital (2017): Eva Voosen
Colaboração: Maria Eulália de Brito, Teo Ferrer de Mesquita, Vasco Esteves
Duração: 98 minutos
O filme Viva Portugal foca entre outros aspectos:
– as contradições entre a ala direita e esquerda do MFA que já a 26 de Abril de 1974, quando da libertação dos presos políticos na Cadeia de Caxias havia surgido,
– o processo de aprendizagem dos militares “apolíticos” em contacto com os trabalhadores em greve e ocupação de fábricas,
– a tentativa de golpe de estado da maioria “silenciosa” (Spínola) a 28 de Setembro,
– a ocupação das terras e sua distribuição pelos camponeses que as cultivam. A primeira tentativa de auto-organização dos camponeses,
– à semelhança do que acontecera na LIP, em França, os trabalhadores bancários portugueses levam a cabo uma “acção ilegal”: fotocopiam em segredo os documentos correspondentes a operações bancárias,
– passagens do único documento filmado da televisão portuguesa, sobre o fracassado golpe da direita a 11 de Março: uma unidade de paraquedistas enviada para atacar tropas do MFA, não dispara mas discute o assunto e depõe finalmente as armas,
– desde o início do processo revolucionário português que uma grande parte da imprensa mundial tenta levar a cabo a sua tarefa não perdendo de vista os chefes, os quartéis-generais dos vários partidos, as forças em jogo e “ideólogos”,
– tal como os agentes da CIA e outros tipos de polícia secreta, procuram descobrir o centro do Poder sem contudo o conseguirem,
– horrorizada, começa a supor que o “poder caiu na rua”, que o velho fantasma se ergueu em Portugal; e para evitar que ele passe ao resto da Europa, essa imprensa “séria” perdeu os escrúpulos e passou à luta.
O filme Viva Portugal não se limita …
… à apresentação de chefes, estratégias partidárias ou às chamadas Vanguardas. Também não responde a perguntas como, “qual a percentagem de votos que colherá cada partido” (entre nós 80% votaria no ditador Caetano se ele se candidatasse – tão arreigado está ainda o medo – diz-nos um professor primário no Norte).
“ACABARAM-SE OS DISCURSOS, AS LINDAS GRAVATAS, OS CHAPÉUS ELEGANTES, AS PROMESSAS VAZIAS. AGORA O TEMPO É DE DIÁLOGO ENTRE OS PORTUGUESES, PARA QUE ENCONTREMOS O CAMINHO QUE DEVEMOS SEGUIR” diz um oficial do Movimento das Forças Armadas durante uma “campanha de Dinamização Cultural”, numa aldeia.
Este diálogo entre oficiais progressistas e o povo trabalhador, o processo dialéctico entre o Poder armado e o Povo oprimido é o tema principal do filme. Não se procura conduzir o espectador a qualquer tipo de construção política mas sim, tão directo quanto possível, introduzi-lo nos acontecimentos em Portugal, no primeiro ano após a queda do regime.
Para quem quer recordar a História e revivê-la, talvez por uma óptica mais próxima da realidade, este é um documentário a não perder!