Cutileiro e os Toiros
João Cutileiro é um artista plástico que não necessita de apresentação. Ao longo dos anos a sua obra espalhou-se por todos os cantos do mundo e tornou-o num dos nossos maiores escultores. Um “ Príncipe do Mármore” como já alguém lhe chamou.
Lisboeta de nascimento, mas alentejano nas suas origens e alentejano pelo coração, vive há mais de trinta anos em Évora, a cidade património mundial, onde tem o seu atellier, a uns cem metros da velhinha praça de toiros, agora remodelada, que completou, em 18 de Maio, 120 anos de existência.
João Cutileiro é um aficcionado à Festa dos Toiros. Os nossos cavaleiros e os nossos forcados, bem portugueses, tocam-no profundamente.
Em Novembro de 2.000, procurei-o em sua casa, para que me orientasse na organização de uma Exposição de Artes Plásticas, sobre o tema taurino, que integraria a 1ª Festa do Toiro que decorreu, em Monforte, de 11 a 19 de Maio de 2001. O João pensou no assunto e, como amigo que muito prezo, disponibilizou-se ele próprio, para trazer a Monforte a sua primeira exposição sobre este tema dos toiros. Nesta sua primeira grande abordagem a uma temática, nem sempre bem recebida em certos meios intelectuais e políticos, trouxe um conjunto de trabalhos onde a escultura, desenhos, gravações e recortes, estavam impregnados do perfume que se respira, quando observamos o Homem e o Toiro, frente a frente, e acontece Arte… João chamou-lhe as suas “Tauromaquias”. Um sentimento raro e profundo de aficcionado e de toureiro. As suas faenas, na pedra e no papel, foram acarinhadas e, os aficcionados, e não só, adquiriram quase todos os trabalhos expostos. Outros grandes vultos das artes, como Goya, Picasso, Pomar, e tantos outros, já há muito, e ainda hoje, abordam com a força do seu talento e da sua sensibilidade, este tema, onde a arte, a emoção e a expressão plástica, estão sempre presentes.
Conheci o João em 1985 e, a partir daí, a nossa amizade enraizou-se. Recordo uma tourada realizada em Estremoz, em 5 de Setembro de 1987, comemorativa dos 25 anos de alternativa de José Maldonado Cortes, onde encontrei, à entrada, o João acompanhado do seu amigo Dr. Henrique Delgado Martins, antigo forcado dos Amadores da Estremadura e de Lisboa. O João, sempre espirituoso, desejou-me sorte e que estivesse descansado pois, se acontecesse algum acidente, o ortopedista Delgado Martins, estava com ele na bancada. Fiz nessa tarde, com o Simão Comenda a rabejar, a última cernelha das nossas vidas. Já retirados integrávamos o Grupo da Amizade. Passados dois anos, em Montemor, fardei-me de novo, na festa dos 50 anos do meu Grupo. Lá estava de novo, na barreira, o amigo João Cutileiro e a sua mulher Margarida Lagarto, a viverem uma tarde inesquecível… Para satisfazer a sua aficcion, e inspirar-se para expressar a sua Arte, era mais ou menos comum encontrá-lo nas nossas praças de toiros.
Amigo João, para que os amantes da “Fiesta”, que não conhecem esta tua vertente taurina, escrevi esta crónica. Em Évora, neste nosso imenso país do Sul, que tanto amamos, vive um Homem, que se inspira no Mundo dos Toiros para fazer as suas obras de Arte. Esperamos uma nova mostra das tuas “Tauromaquias”. Um Olé para ti.
Fotos: uma escultura de uma cernelha, desenhos e uma foto tirada em Montemor, na barreira, em Setembro de 1989.
António José Zuzarte. Monforte, 9 de Novembro de 2009.