Arte na Trafaria
O artista francês de origem portuguesa André Saraiva vai transformar uma antiga fábrica da Trafaria, concelho de Almada, num espaço dedicado às artes, com estúdios para acolher residências artísticas, contou o próprio à agência Lusa.
Filho de portugueses, André Saraiva nasceu na Suécia em 1971, passou a adolescência em Paris e atualmente vive e trabalha em Nova Iorque. Lisboa era um sítio onde vinha de férias, em cujas paredes começou a pintar ‘graffiti’ no final da década de 1980, início de 1990. Nos últimos anos começou a vir mais vezes, estando agora “a trabalhar num projeto cá”.
“Comprei uma antiga fábrica na Trafaria e estou a renová-la. Vou fazer o meu estúdio e uma série de estúdios para convidar amigos artistas de Nova Iorque e de Los Angeles para virem cá fazer residências”, referiu em declarações à Lusa, a propósito da inauguração da exposição “André Azul”, hoje na galeria Underdogs, em Lisboa.
André Saraiva conta começar a usar a antiga fábrica “durante o verão”. No entanto, “com as obras – espero que a Câmara Municipal de Almada me ajude para isto acelerar -, o projeto só funcionará em pleno “antes do final do ano”.
O artista, e também empresário, começou a fazer ‘graffiti’ em 1985. Já na década de 1990 criou “Monsieur A” (Mr.A), uma personagem de cabeça redonda, olhos em X, com uns traços a fazerem de pernas e um sorriso rasgado, com a qual se tornaria conhecido em todo o mundo.
Ao longo dos anos tem exposto em galerias e instituições por todo o mundo, foi editor executivo da revista francesa de moda masculina “L’Officiel Hommes” e colaborou com marcas de moda internacionais como a Louis Vuitton, a Levi’s, a Chloé, a Chanel, a Cartier, a Nike e a Uniqlo, entre outras. Tem também uma faceta de empresário com ligação a clubes, hotéis e restaurantes em vários países.
Apesar de ainda fazer ‘graffiti’, “na rua de maneira ilegal”, agora está “a fazer coisas mais em colaboração com as cidades”. “Gosto que a arte seja muito acessível e a rua faz parte daquele processo”, referiu.
A ligação a Lisboa reforçou-se nos últimos anos com a compra de uma casa “na Margem Sul, sobre a praia”, para onde vai “ler, pensar ideias e fazer surf”.
“Gosto muito daquela parte de Lisboa que é a Margem Sul, que acho que faz parte de Lisboa. Da mesma forma que tens Nova Iorque e Brooklyn [separadas pelo rio Hudson], tens Lisboa e a Margem Sul, que é mais portuguesa, e tens lugares ainda vazios, espaço para os artistas, e as coisas ainda são acessíveis [do ponto de vista monetário]”, disse.
Por ter vindo a Portugal “em momentos diferentes” da vida, André Saraiva nota que “Lisboa está muito diferente”.
“Gostava da minha Lisboa com a impressão de ser a única pessoa de fora, mas estou muito contente que outras pessoas tenham a possibilidade de a apreciar”, referiu, salientando o lado positivo de Lisboa “ficar mais multicultural e atrair mais artistas, pessoas que vêm para criar e trabalhar e trocar ideias com os portugueses”.
Apesar do projeto na Trafaria, André Saraiva irá manter “o estúdio e tudo em Nova Iorque”, lembrando que “a rota mais rápida para vir à Europa é Nova Iorque-Lisboa”.