Outro Mundo
“O que permanece na areia da memória quando as águas do passado recuam” António Lobo Antunes.
Era bem pequenino quando montava este enorme cavalo de papelão. Penso que era assim que se chamavam estes brinquedos feitos com pasta de papel. Os responsáveis pelo magnífico Museu de (A) Brincar de Arronches, sabem certamente o nome correcto que se dava a estes lindos cavalos que, como este, não resistiu aos quase oitenta que separam esta foto do passado, quando o meu mundo era outro, tempo dos jogos da minha infância. Nesta idade não me recordo destes momentos que a foto nos mostra. Sei, por aquilo que me contavam, que era na casa de Veiros onde nasci e vivi os primeiros tempos de criança. Passado pouco tempo meu Pai comprou outra casa, junto à igreja matriz, e dessa recordo já os acontecimentos vividos na minha infância, já mais crescidinho.
Na casa onde nasci, só devo ter vivido até aos dois anos e as recordações, nessa idade, não ficaram retidas na minha memória. Era demasiado pequeno e só montava a cavalo neste precioso brinquedo de papelão e, só mais tarde me escarranchava em cavalos a sério que o meu Pai tinha na cavalariça da nossa nova casa. Também, quando ia ao “Monte” em Santo Amaro, à casa dos meus avós maternos, montava a já velhinha “malhadinha”, essa garrana que me levava pelos campos em volta do “Monte”, não muito longe, pois com os meus 4 ou 6 anos, não me podia afastar muito. Outros tempos, outras gentes, outras formas de viver e de passar o tempo. O meu mundo era outro.
Este Alentejo, que transporto na alma, faz parte do meu ADN e nunca o poderei esquecer.
Estou a escrever esta pequena crónica no dia 12 de Julho de 2018, dia de anos do nascimento de meu querido Pai que, se ainda estivesse vivo, comemoraria os seus 110 anos. É para Ele esta recordação do nosso passado.
António José Zuzarte, Costa da Caparica, 12 de Julho de 2018.