Invasão Pública

Como explicar esta invasão, esta apropriação do bem público? Como explicar que, existindo um muro que delimita a propriedade privada do passeio público, onde até está implantada a iluminação pública, e depois uma entidade resolva criar uma vedação na beira do asfalto, roubando o passeio aos transeuntes? Como explicar que essa entidade é do Estado: a INATEL?

Desde que me conheço que frequento a praia da INATEL. Ou melhor, primeiro a da FNAT e agora a da INATEL. É a minha praia.

Antigamente atravessávamos o “salão”, que tinha duas partes, uma de mesas e cadeiras com o bar, mais ou menos como ainda é, e na outra parte uma zona de bilhares e outra de ping-pong. Não, não era ténis de mesa, era mesmo ping-pong. Ping e depois pong, claro está.

Depois, uma das inúmeras administrações, resolveu que a INATEL era para os INATÉLICOS e vedou a passagem para a praia.

Mandam os que cá estão, come e cala-te, quem manda sou eu.

Pelo caminho desapareceram pavilhões e restos da “alegria no trabalho”, um cinema ao ar livre e um cineteatro – o único da freguesia – que ruiu e não foi substituído, considerando-se que o melhor era demolir e esquecer tudo. A INATEL ficou um hotel e vários comedouros, duas piscinas (uma concessionada para o povo e outra só para o hotel).

Volta e meia a INATEL resolve dar mais um passo nesta “privatização” de surra. Ninguém questiona.

Reparem: FNAT significa Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (brrrr) e INATEL significa Instituto Nacional para o Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores. Repararam no “Nacional”?

Agora chamam-lhe Fundação INATEL e não se encontra mais o que significa, a razão de ser daquela iunstituição que se funda nos bens públicos (terrenos, dinheiro, etc.) porque tem um propósito de interesse público.

Em 2008, no consulado de José Sócrates, a INATEL foi extinta e criada uma Fundação com um novo enquadramento jurídico de fundação de direito privado de utilidade pública. Sim, utilidade pública.

A gestão do bem comum é um problema nas sociedades desenvolvidas. É de todos mas não é de ninguém em particular. Quem zela por ela? O Estado.

Ora quando é uma entidade pública a interpretar a autorização que tem para usufruir o bem público, como sendo uma entidade privada, vedando o acesso desnecessariamente… Como é?

Ainda há muito pouco tempo, TODA a estrada de acesso à praia ia ser vedada. Sem mais. Porquê? Porque pode.

Levantaram-se as vozes – nós fomos uma delas – e a vedação foi retirada.

Estamos a aproximar-nos do verão e devia ser reposto o bom senso, retirando a vedação e colocando-a ou no muro ou do lado de dentro do muro.  

Aquela estrada, sem nome, que dá acesso ao Parque de Campismo e à praia é usada por milhares de pessoas, mesmo de inverno, com carros estacionados e sem passeio para pessoas, crianças… Se fosse um “pato bravo” compreendia-se, mas a INATEL? <Seja como for, em nenhum caso isto devia ser aceite. Quem nos acode?

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