Onde É Que Eles Estão?
Onde estão aqueles que durante os últimos 30 anos, pelo menos, andaram a lutar pelo Estado Mínimo?
Onde é que estão aqueles que defendiam a saúde TODA privada?
Onde?
Onde é que está a horda ululante do empreendedorismo e outras falácias sociais que nos prometiam a todos numa visão beatífica de cidadãos acionistas?
Onde é que estão os defensores do individualismo radical, sem necessidade de solidariedade? Precisam ou não de ajuda?
O que diz agora o verme oportunista que é catapultado pelo Correio da Manha e Cofina que, felizmente, acaba por não comprar a TVI, que queria entregar as escolas aos professores e privatizar tudo, esmagando minorias?
Onde estão os iluminados neo coisos? Onde está a “mão invisível do mercado”? Nos preços do álcool, máscaras e luvas a serem criminosamente inflacionados? Quem põe cobro a isso?
Como defende Trump ter dissolvido a Comissão de Luta contra Pandemias que havia na Casa Branca? Bem, esta é fácil: mentindo, claro.
É agora que se vê – para quem ainda não tinha percebido – a importância de um estado forte, não só um regulador forte – como em Portugal não há – mas um Estado com capacidade de intervenção na sociedade, na saúde, na segurança, na educação…
Dão que pensar as palavras do Secretário Geral da ONU: “quando é para os bancos os biliões aparecem, pois agora têm que aparecer também, mas para os necessitados.
Mas é vê-los agora, os que exigiam o fim do Estado, como sempre nos seus lugares de comentação nas tevês nacionais, mas agora a clamar que o estado faz pouco, devia ter feito mais isto e aquilo, que demorou muito tempo…
Foram rápidos.
A verdade é que os ventos de mudança já sopram. A própria “Business Roundtable”, entidade de cúpula dos 200 principais CEO dos USA, anunciou na sua reunião de agosto passado que o neoliberalismo estava errado e, pasmem, o papel do Estado era fundamental na regulação e proteção dos cidadãos.
Oooops…
Só para ter a certeza
Não sei se toda a gente percebeu o que é, na realidade, a tal teoria da “imunidade de rebanho” que norteou num primeiro momento os líderes desta nova moda “populista” e que já foi, entretanto, abandonada por todos, menos pelo senhor Bolsonaro.
A ideia da teoria é que numa pandemia como esta, o conjunto da comunidade, depois de ficar toda infetada, desenvolve por si própria uma defesa natural – que, neste caso, não é previsível – ou entretanto inventa-se uma vacina. No entanto, ainda não temos vacina para os surtos de H5N1…
Ora, o que não é muito bem explicado, mas até é dito explicitamente, é que isto acontece à custa de um número de mortes que não é negligenciável. Nem se sabe o que é um número negligenciáveis de mortos…
Têm mesmo o desplante, como se verifica agora nos EUA, que alguns defendem que os idosos, por patriotismo e para deixar uma economia saudável para os netos, não se importem de morrer. Ou seja, justificando desta forma ignóbil a evidente apatia da administração Trump perante o desastre da sua estratégia.
Passemos de largo o facto de estas pessoas que acham que não fazer mal que as pessoas morram que nem tordos perante a impassividade do Estado, serem as mesmas que estão contra a interrupção voluntária da gravidez, contra o direito à morte assistida por doentes terminais…
Trump e Boris Johnson mudam de posição quando se confrontam com as reações a esta verdadeira pena de morte que estavam a ditar para um número que pode ser, mais do que impressionante, verdadeiramente demolidor para as suas pretensões políticas que.
Ainda não Bolsonaro. Mas o panelaço já ecoa nos bairros da classe média. Precisamente os mesmos que começaram desta forma a campanha de destituição de Dilma.
Parece que finalmente estão a compreender que os efeitos do Covid19 na “peste grisalha” são precisamente os mesmos que na sua base eleitoral: são uma e a mesma coisa
Concluindo
Vamos todos juntar esforços, claro. Parece que podemos perder muita coisa, mas que não se perca a memória.