Ghandi (1869-1948)

Acabei há minutos de ler um livro da autoria de Louis Fischer intitulado “A vida de Mahatma Gandhi” da coleção Biografias Universais da Mel Editores.

 

Impelido como sempre pelo fascínio que os grandes homens provocam no cidadão comum, não vejo maneira de o sublinhar a não ser dando a conhecer a todos os que têm a paciência de me ler, a noção da importância que esta personagem tem para mim.

 

Desde muito novo nutri pelos grandes vultos da história uma admiração, primeira sem limites e depois à medida que a vida me fez crescer e me foi ensinando a comparar as realidades fui descartando algumas daquelas ilusões. Depois de setenta e tal anos de vida sobram poucas admirações e esta é uma delas.

 

Se mal me recordo a minha admiração pelo Gandhi é muito antiga mas teve em mim impacto mais evidente a partir dos anos 80 em que o longo filme com o seu nome foi produzido. O seu assassinato em 1948 bem como a posterior independência da India e por arrasto o Paquistão, já ocorreram depois do meu nascimento. Calculem como sou velho, estes países bem como outros que apareceram depois de 2ªGuerra contam assim menos primaveras.

 

Há alguns anos tive oportunidade de privar com o Professor Narana Coissoró, ele também um admirador confesso de Gandhi. Estava ele numa palestra sobre a Paz versando esta personagem. Falava de forma tão apaixonada e contagiante que se foi cingindo a pormenores e acabámos por ficar em 1920, logo muito incompletos. Mas ele falou de um pormenor delicioso que descrevia a escola primária de Gandhi e como funcionava a chamada escola do pó, assim, os alunos alisavam o pó que estava no chão e faziam ali mesmo os seus exercícios que quando concluídos eram apagados com a mão e ficavam à espera de mais trabalhos.

 

No início da sua vida profissional, estivera fortemente envolvido na defesa de interesses dos menos afortunados na Africa do Sul, fazendo nessa época deslocações constantes para a India. Na guerra dos Boers entre os colonos holandeses e ingleses por volta do final do século dezanove, Gandhi apesar de simpatizar com os holandeses alistou-se do lado dos ingleses, reconhecendo a autoridade local destes.

 

Há detalhes na vida deste homem que são pura invenção dele, resultado das circunstâncias que rodeavam os anos em que viveu. Quem se lembra de sendo a India uma colónia pobre conseguir atacar o Imperio Britânico pelo lado económico? Alterou o modo de vida dos seus compatriotas pondo milhões de pessoas a fiar e com isso fazendo os seus próprios tecidos. Conseguiu reduzir o grau de exigência do mercado local mas retirou as exportações que deixaram de chegar a Inglaterra a preços baixíssimos.

 

É relevante a questão do jejum. Primeiro como forma purificadora da sua pessoa e depois como arma. A importância de Gandhi era de tal ordem que era seguido por milhões de pessoas num misto de chefe, líder, ideólogo ou o que queiramos chamar. Recorde-se que existiam na India cerca de 400 milhões de habitantes. Os seus pares bem como os próprios ingleses respeitavam sempre as suas opções e a maneira como conduzia seus pontos de vista. Pugnava por uma India unida muito antes de perceberem que a divisão para o Paquistão seria redutora a vários níveis. Sempre que havia insubordinação (de que resultavam milhares de mortos) ou se pretendia promover interesses contrários, fazia jejum, de modo que esteve várias vezes às portas da morte.

 

Uma última nota nostálgica mas verdadeira. Sempre que desço a Avenida das Descobertas ao Restelo, que a meio deriva para Algés, lá está no meio das árvores a imagem de Gandhi, só, caminhando e de roupas simples.

 

Enfim mais de 500 páginas não se resumem facilmente. Devem ler este livro, que nos ajuda a compreender que se formos fortes pudemos conseguir o que queremos demore isso o tempo que for preciso.

Paz à sua memória.

 

 

 

 

Escrito em 9.Janeiro.2017

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