Carolina do Aires: Fim de um Ciclo
O Notícias da Gandaia foi entrevistar os irmãos Silva José Filipe, com 75 anos e António Filipe, com 65, na última tarde no restaurante, enquanto se retiravam alguns objetos pessoais e a nova gerência falava já com os empregados num canto da casa. Momentos muito emotivos. Afinal, foram muitos anos, mais de uma geração, a passar do antigo restaurante que o mar destruíu, para o outro, que o CostaPolis destruíu e, finalmente para este.
A última mudança deixou muitas mágoas, “até porque a antiga Presidente da Câmara nos tinha prometido que iríamos ficar no mesmo sítio” diz José Filipe olhando com tristeza para o local onde se situava antigamente o Carolina do Aires. Pergunta: “para quê? para ter ali aquelas árvores raquíticas?” Acrescenta de imediato o irmão sobre o parque de estacionamento, o pior dos males que fizeram ao restaurante: “a nossa clientela acompanhou-nos ao longo dos tempos, são velhotes como nós, precisam de estacionar perto…”
A história do Carolina do Aires começa em meados do século passado, com a sua tia Carolina, , irmã do seu pai, e o marido, Aires, um banheiro. Esse restaurante foi derrubado pelo mar no dia 7 de fevereiro de 1964, ficando tal como a foto demonstra, uma fotografia emoldurada e exibida com orgulho numa das paredes do atual restaurante.
Passou depois para o bonito restaurante todo em madeira, junto à Avenida General Humberto Delgado, mais protegido dos arrufos do mar. “Tinhamos aí boas condições. Além do parque de estacionamento, que era fundamental, havia uma boa cave de arrumos e armazém, balneário, uma câmara frigorífica, bancada de trabalho para arranjar o peixe… era uma casa a sério…”
Olham em volta como se o tempo ainda cruzasse o passado e com a incredulidade de um presente que não faz sentido, perante o espaço, vazio e desmazelado onde outrora se erguia, orgulhoso, o Carolina do Aires.
“Abrimos aqui em dezembro de 2008, mas nunca foi a mesma coisa!. Contrapõe António Filipe: “ainda pusemos a CostaPolis em tribunal, mas não conseguimos nada, faltavam papéis. Pagávamos IMI e tudo, mas não chegava… não recebemos nada de indemnização e ainda por cima tivemos de pagar o equipamento todo daqui, mais de 11 mil euros, além da renda que é cerca de dois mil euros mensais”.
Agora espera-os a merecida reforma e o respetivo descanso. Porém, o passado está sempre presente: “O que isto era… as pessoas aperaltavam-se todas para vir passear na Rua dos Pescadores… Agora.. isto parece um deserto, não há nada para fazer, nem uma discoteca…”
É pena que os descendentes não tenham agarrado o negócio de família.
Espero que a nova proprietária saiba e consiga recuperar o bom nome da casa com a melhoria
na qualidade da confeção, da ementa e da qualidade de serviço.