A Meta
José dos Santos e Alexandre Nogueira, há cerca de 50 anos atrás, uniram-se em sociedade comprando um pequeno espaço na Rua Dos Pescadores onde existiam duas mini-pistas de automóveis, tendo como vizinha uma cervejaria chamada Cozinha Nova, explorada pela Dona Maria Do Carmo, que por esta altura era o local melhor apetrechado com o que de mais moderno havia para a sua função.
O Senhor José era oriundo da Beira Alta, saindo de lá pela primeira vez, para ser incorporado no Exército Português, obrigatório a todos os varões da época. Depois de cumprido o serviço militar, veio para Lisboa e empregou-se na Companhia Portuguesa de pesca. Já estabilizado a nível financeiro, propôs casamento à sua namorada de alguns anos, que vivia na mesma zona da Beira, a Dona Amabília, descendente de espanhóis, casaram e tiveram 2 filhos.
A dada altura da sua vida, decidiu vir viver para Almada, onde investiu na compra de um restaurante chamado Belo Horizonte, trabalhando nele juntamente com a sua esposa.
Mais tarde fechou o restaurante e no terreno construiu um prédio de habitação e veio então morar para a Costa da Caparica e tomando conta, junto com o Sr. Alexandre, do embrião que viria a ser a famosa Meta.
O Sr. Alexandre era um homem com muitos investimentos na Costa de Caparica, nomeadamente a pensão Dóris, hoje já extinta, o único e famoso cinema, onde existe hoje o Centro Comercial dos Pescadores e o restaurante Porta Larga na Rua dos Pescadores. Em Lisboa era dono de armazéns de lanifícios.
Quando a marisqueira e restaurante Cozinha Nova decidiu fechar portas e já como único dono da primeira Meta, comprou-a sujeitando-a a extensas obras, abrindo um rasgo entre os dois estabelecimentos tornando-o num só.
Apostou na inovação, comprando várias máquinas de diversão, matraquilhos e uma jukebox com discos de vinil a qual teve um sucesso estrondoso, por ser a única forma, nessa altura, de ouvir os últimos sucessos musicais e, conforme me é contado, as pessoas juntavam-se em número considerável nos seus tempos livres, fazendo daquele espaço quase uma discoteca.
Na altura em que fez as primeiras obras, construiu um primeiro andar com 9 mesas de bilhar e snookers e uma cave, com quartos que alugava aos veraneantes na estação forte do ano, o verão.
Teve como primeiro empregado uma figura carismática e típica da Costa de Caparica, com a alcunha do “Trafaria”, um homem que foi trabalhador no comboio da praia, o Transpraia, onde teve um acidente que lhe custou a amputação de parte de uma perna e a utilização de uma prótese. Nada disto fez com que o Trafaria esmorecesse, sendo a natureza deste homem muito alegre e divertida, deliciando todos com os seus ditos, poemas e anedotas, dado ao seu copito, sobressaia nele ainda mais o seu lado humorístico.
Este homem morava numa artéria hoje conhecida por Catarina Eufemia desde o 25 de Abril e com a ocupação das casas do antes chamado bairro dos bacalhoeiros, mandado construir por Henrique Tenreiro, um destacado membro do governo, que para além deste bairro, mandou também construir o campo da bola e a Casa dos Pescadores, sendo também dono da Docapesca (este informação não foi por mim certificada) e coordenava igualmente as pescas do bacalhau. Talvez seja por isso que foi dado o nome do bairro dos bacalhoeiros ao bairro que construiu.
A sala de jogos a Meta sempre primou pela renovação e inovação de novos atrativos de diversão, há já muitos anos atrás, organizavam-se campeonatos nacionais de carros telecomandados, o que fazia com que na ânsia de ganhar, os que podiam comprar carros próprios que alteravam de diversas maneiras, de modo a serem mais potentes, para além dos que menos abastados se ficassem pelo aluguer dos carros da casa.
Seguindo essa politica de inovação é hoje uma casa, com um incontável número de máquinas diversas e simuladores, um deles, um carro amarelo que simula quatro situações exemplo: montanha russa, uma mina de carvão com acidentes de percurso. Tem também máquinas de ar, de basquete, um computador de caricaturas, máquina de café, de água, de tabaco e uma sala na cave com computadores com acesso à internet. Para não falar dos matraquilhos, que se mantêm.
Não há criança, local ou sazonal, que não sinta um fascínio imenso, ao passar pela famosa casa de jogos “a Meta”. Atraídos pelo colorido e pelos sons dos imensos jogos, que lá dentro se encontram e que atravessam gerações.
O Sr. José dos Santos era uma personalidade com uma vida muito regrada e estável, que contribuía regularmente com donativos para a igreja local e para qualquer associação da terra, que apreciava viajar, o que fez por quase todo o mundo. A sua grande paixão foi sempre a casa de jogos, na qual trabalhou até ao último dia da sua vida, que terminou aos 92 anos. À sua esposa, uma mulher muito dedicada a educar os filhos e aos lavores femininos, é-lhe reconhecida a paixão por trabalhos manuais, que fez até ao final da sua vida com 82 anos.
A imagem que guardo do Sr. Santos da Meta, é a de uma pessoa afável, não prescindindo de ler diariamente o seu jornal pela manhã nos cafés da Costa, acompanhado por um cafezinho e um uísque, habito que também manteve até ao último dia da sua vida.
Hoje em dia são os filhos dele, o Joséé Manuel e a Isabel, ele tendo a seu cargo a parte operacional e ela a parte escrita, que têm o desejo de seguir as pisadas do pai, sempre inovando uma casa que jamais será esquecida, atrevo-me a dizer pelo pais inteiro.
Bom dia, conheci esta casa ontem, 19-06-2016, pela primeira vez. É inexplicável o sentimento ao ver aquele espaço. Assim que entrei, regredi 15 anos na minha vida e pude novamente apreciar um salão de jogos. Tenho muita pena que os salões de jogos tenham acabado e as experiências que vivi em miúdo, não consiga proporcionar da mesma forma ao meu filho.
Convido todos os aficionados por salões de jogos e de máquinas “arcade” (tal como eu) de Portugal a visitarem este espaço que está simplesmente espectacular.
Por favor, mantenham a ‘Meta’ viva e não deixem morrer este sitio icónico.