Arte-Xávega na Fonte da Telha

Saíu na Rostos.pt um belo trabalho de António Sousa Pereira sobre a Arte-Xávega na Fonte da Telha, o qual aqui reproduzimos, como é nosso hábito, mas com ligação ao original, que poderá ver clicando aqui.

Quotidianos
A Arte-xávega e a beleza humana na Fonte da Telha – Almada

Um ritual, marcado de silêncio de um colorido deslumbrante que cativa.
Um vento suave sopra e refresca o fim de tarde, ali, no areal da Praia da Fonte da Telha, na Costa da Caparica.

Rostos.pt

O sol começa a descer. Os veraneantes vão abandonando o areal. O mar na distância parece arder, como se estivesse coberto por um manto de lava.
As gaivotas de repente cobrem o areal e os céus.
Os pescadores aguardam, conversando, enquanto as redes são içadas para terra.
Curiosos aproximam-se para ver o pescado.
Um ritual, marcado de silêncio e de um colorido deslumbrante que cativa.
Um vento suave sopra e refresca o fim de tarde, ali, no areal da Praia da Fonte da Telha, na Costa da Caparica.
O Ti’João Martins ali está com um olhar sereno e com rugas que marcam os sinais de uma vida penetrada pelas ondas do mar. Diz-me que tem 85 anos.
“Vim para a Fonte da Telha com 3 anos e aqui estou” – refere.
Fala-nos da arte, a sua arte de pesca – a Arte-Xávega, que, dizem os entendidos, é uma arte “cega”, pois nunca se consegue prever o que vai pescar, porque, no primeiro lance, nunca se sabe o que virá à rede.
“Foi uma arte inventada por S. Pedro” – salienta o Ti’João Martins, com um grande sorriso. Conta-nos que um destes dias pescaram um tubarão.
A Marta delicia-se a fotografar, percorre todos os movimentos e todos os ângulos.
Para aquela família de pescadores é mais um dia de vida, de luta, de trabalho.
Para mim, que fiquei por ali para observar o por-do-sol, vivo aquele instante como uma experiência única, de cor e sombras.

A arte-xávega é uma arte secular e diz-se que é única no nosso país.
Há movimentos que defendem a importância de dar a conhecer, preservar e valorizar a Arte-Xávega, reconhecendo-a como um importante património histórico-cultural nacional.
Esta é uma arte de pesca com dimensão económica que contribui para o sustento de várias famílias na Costa da Caparica e Fonte da Telha.

Foi o que vimos ali, ao fim da tarde, do dia 25 de Agosto – uma família, a família do Ti’João Martins, naquela labuta, mantendo viva uma actividade e preservando uma arte de pesca com largas tradições.
Só vendo no local e vivendo a situação se percebe o sentimento que une aqueles laços familiares.
“Escolhe os chocos. Hoje há muitos chocos” – comentavam.
Crianças corriam apanhando para sacos os caranguejos.
O sol descia. O escuro na areia foi subitamente iluminado por um projector. O peixe reluzia.

Um momento único que guardo e fico a pensar, nas várias razões que têm motivado, até na Assembleia da República, debates sobre a importância de se legislar, de forma a preservar esta secular Arte-Xávega e defender os interesses de famílias que foram passando de geração em geração.
O Ti’João Martins é um exemplo – 85 anos e ali continua firme, o arrais da família, trabalhando e mantendo viva uma arte que herdou dos seus pais e avós, passando o testemunho aos seus filhos e netos.

Se um dia puderem, vão até à Praia da Fonte da Telha, aqui tão perto do Barreiro, e vivam o pôr-do-sol e este momento único.
Obrigado Ti’João Martins pela sua simpatia.
Ah, é verdade, as cavalas estavam um delicia!

António Sousa Pereira

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