O Lírio Branco das Dunas…
« A minha esperança mora/No vento e nas sereias – /É o azul fantástico da aurora/E o lírio das areias». Sophia.
« Seria um lírio pálido de cal,/uma pomba atada ao meu coração,/o guarda que na noite do meu trânsito/de todo vetaria o acesso à lua.» Lorca.
Todos os anos os observo nas dunas das praias que frequento. É uma espécie comum em todo o litoral português desde Caminha até Vila Real de Santo António. O Pancratium maritimum, da família das Amaryllidaceas, tem vários nomes vulgares: lírio branco das dunas, lírio branco das areias, lírio branco das praias… Também é conhecido por narciso marítimo… Um nunca mais acabar de nomes para uma mesma planta. Por isso se utiliza, para uma identificação científica, a nomenclatura lineana, para evitar confusões. Esta planta, com a sua flor branca, com reflexos azulados, tem inspirado os poetas e os escritores que a ela se referem em tantas ocasiões. Felizmente, pelo que tenho observado, sem outras bases de análise, parece-me que não corre perigo de extinção!!! Os seus bolbos, profundamente enterrados na areia, subsistem após a morte da parte aérea da planta, depois da floração e o amadurecimento e dispersão das suas sementes negras pelas areias circundantes. A Natureza dá-lhe a beleza, como dá a outros lírios de espécies diferentes mas, ao mesmo tempo, dotou-o de outras defesas para que a espécie não se extinga.
Ao fotografar este Verão, nas dunas que envolvem a Praia das Palmeiras na Costa da Caparica, esta flor que desafiou a minha sensibilidade de fotógrafo e de amante da Natureza, despertou em mim a vontade de escrever esta crónica. Com ela procuro lembrar que, por esses campos de Portugal, há plantas selvagens de uma beleza rara, que temos de saber admirar e não destruir. Algumas delas estão em perigo de extinção. Só umas fotos bonitas, para rever mais tarde e, quando a inspiração poética chegar, cantar em versos estes lindos lírios brancos das nossas vidas, como o fizeram Sophia de Mello Breyner Andresen ou Federico Garcia Lorca… e, eu próprio, modesto, modestíssimo, com a minha humildade, ao lado destes “monstros sagrados” da cultura… Na duna/Bem no alto,/Virado ao céu,/Solitário/Lírio branco…/Como eu me sinto/Nos meus silêncios,/Nos meus sonhos,/Com a areia/A fugir/Entre as mãos…/O tempo a passar/A correr/ Sem o poder parar…/Tu vives,/Cresces/E morres,/Eu também,/Embora separados/Nos nossos caminhos…/Meu lírio branco/Do meu destino…/Quero recordar-te/Meu lírio branco/Minha flor solitária/Meu companheiro/Tu partirás um dia/Mas eu partirei/Sempre primeiro.