O Alentejo
Há pouco tempo a residir no Baixo Alentejo, vinda de uma terra Maravilhosa com uma frente marítima belíssima, onde a natureza se esmerou num mar cuja cor muda, dependendo do seu estado de espírito, assim como a sua forma e conteúdo e onde o sol se põe fazendo questão de nos maravilhar na sua despedida, tenho tido a oportunidade de viajar por todo o Distrito de Beja e, sem querer, dei por mim a fazer comparações entre gentes, modos de vida, paisagens e costumes.
E não querendo armar-me em “expert” no assunto, aqui vai a minha visão desta zona muito particular do nosso (pequeno) imenso país.
O distrito de Beja engloba muitas aldeias, vilas e cidades bem conhecidas e apreciadas, sobretudo por turistas do Norte da Europa que aqui procuram em especial a calma das planícies, onde amiúde se avistam rebanhos enormes de ovelhas com as suas crias, de vacas que pastam em grande liberdade, de porcos, burros e cavalos com as cegonhas que constroem os seus ninhos no cimo de árvores, igrejas e postes de alta tensão, sempre aos pares uma imagem que só por aqui se vê, dos imensos olivais, vinhas, sobreiros, azinheiras e onde o verde gritante rivaliza com o vermelho sangue seco da terra arada.
Foi com autêntica surpresa que me deparei com laranjeiras que adornam as ruas de todos os lugarejos, aldeias e cidades deste pedaço de Portugal, ao invés de outra espécie de arvoredo, próprio da cosmopolita Lisboa e arredores, é com muito agrado que constato que é difícil encontrar lixo espalhado pelas ruas principais ou secundárias, estas parecem varridas e lavadas diariamente e os seus habitantes escusam-se a deitar fora, numa via qualquer, até um pedacinho de papel em redor dos caixotes de lixo bem conservados. Não existem monos, roupas, colchões usados ou mobília sem préstimo, nem lixo doméstico em sacos rebentados pelos animais abandonados, o que é muito vulgar ver-se na periferia da cidade de Lisboa, ou Almada, onde residi durante toda a minha vida.
O orgulho que as gentes têm pela limpeza dos sítios onde residem reflete-se também nas casas que se apresentam sempre caiadas de branco, com uma nota de cor vertical na fachada e em volta das portas e janelas, cada um escolhendo um tom, tornando a cidade colorida e vistosa. É raro ver-se um prédio ou casa degradada a nível de pintura e arranjo geral.
Os cafés e restaurantes que proliferam por todas as aldeias mantêm o mesmo nível de asseio e bom gosto, refletindo-se nos lavabos que se apresentam surpreendentemente asseados, seja a que horas forem do dia.
Talvez por ser um distrito grande em território mas pouco populoso, as gentes têm no andar uma calma que se propaga à maneira de falar, com um forte sotaque cantante e com expressões muito próprias recheadas de muita simpatia e vontade de ajudar em qualquer dúvida que qualquer estranho lhes apresente, têm para além disso uma filosofia de vida muito diferente das grandes capitais do centro (são as que melhor conheço) consideram que a excessiva preocupação por ninharias não fazem bem à saúde física e mental, que a vida é para ser vivida com o mínimo de sobressaltos, aceitando que as mudanças de clima, financeiras ou emocionais fazem parte da vida de todo o ser humano, atrevendo-me a afirmar que por estas bandas o stress é pouco conhecido e é descartado sem apelo nem agravo.
Esta zona do Alentejo não é só planície, somos aqui e além surpreendidos por bocados montanhosos onde os grandes rios rasgam as serras e correm ziguezagueando em curvas inesperadas entre pedras e seixos, num silêncio envolvente onde só o chilrear da passarada tem voz e se pode observar coelhos e lebres, corças e perdizes assustadas pela nossa inesperada presença, pois não conhecem a civilização e vivem livremente no seu habitat natural.
Encontram-se ainda muitos pontos que indicam a passagem dos povos romanos e árabes com muitos castelos medievais, igrejas, antigas mesquitas e monumentos alusivos a esses povos que coabitam em harmonia com a arquitetura contemporânea transformando muitas cidades num ponto turístico de grande interesse.
Quem percorre as estradas e caminhos secundários desta imensa região depara-se no geral com uma diversidade de cor, silêncio, vida animal, gentes sem pressa, planície, montanha, casario branco e rasteiro e como já referi uma sensação de calma e tranquilidade no ar puro que se respira, na ausência de fábricas e outros motores poluentes proporcionando a quem necessita de um autêntico banho de relaxamento, uma benesse muito próxima e diferente.