A Defesa da Cova do Vapor
Recebemos o seguinte texto do Engº António Brotas e do Engº Geoge Rupp, ambos docentes do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa. Temos o maior prazer em publicá-lo, não só pelo relevo curricular e cívico dos autores, mas sobretudo pela solidariedade da Gandaia com o seu conteúdo,uma vez que nos temos batido sempre pela afirmação da importância da Cova do Vapor, quer em termos de arquitetura vernacular, quer na géneso histórico-cultural da identidade desta Frente Atlântica do Concelho de Almada (FACA).
No dia 19 de Fevereiro dois colaboradores do “Jornal República” foram à Cova do Vapor para verificarem localmente os estragos resultantes dos últimos temporais e tirarem uma fotografia do Bugio para figurar na última página do 6º número do “JR”, que sairá em Abril.
Na ocasião tivemos oportunidade de falar com o Presidente e o Tesoureiro da Associação de moradores da Cova do Vapor, “Cova do Vapor Sempre”, que nos deram as informações que estão na base do texto que se segue, que completam e corrigem nalguns pontos informações que já tinhamos, mas que consideramos suficientemente importantes para, sem esperar pela publicação do nosso 6º número em Abril, transmitir desde já ao Senhor Ministro do Ambiente, na sequência da sua recente intervenção televisiva sobre a defesa das praias da Costa Caparica.
Inicialmente, pensávamos que o nome “Cova do Vapor” era devido a algum vapor que tivesse naufragado na zona, mas não. No início do século XX havia, em terra firme, a leste da actual Cova do Vapor, no domínio marítimo, uma povoação de casas de madeira, designada por “Lisboa praia”, onde chegavam num vapor as pessoas de Lisboa que iam à praia no extenso areal que, quase sem interrupção, ia até ao Bugio. (Em mapas existentes da Sociedade de Geografia de Lisboa, entre eles no que reproduzimos no nosso segundo número, estão representadas as extensas línguas de areia que no século XIX protegiam as praisa da Costa.)
Quando o mar avançou sobre a terra firme, os serviços do domínio marítimo auxiliaram a população a transferir as suas casas para a actual Cova do Vapor, para a Trafaria e para a Costa da Caparica. O que se passa agora é, assim, um fenómeno que tem um passado bem documentado.
Actualmente, a Cova do Vapor é protegida a Norte e a Leste por um cordão artificial de grandes pedras, mas basta ver o efeito dos recentes temporais sobre este cordão para sabermos que a povoação está condenada a desaparecer se nada for feito.
A sua defesa, no entanto, não passa pelo processo de um depositar mais areias, como oque o Ministério do Ambiente insiste em usar mais a Sul, nas praias da Costa. O problema da Cova do Vapor é um problema de terra firme e não de mais areia. Se não houver novos temporais, as areias depositadas nas praias da Costa poderão manter-se, talvez, durante mais dois ou três anos, mas as depositadas junto à Cova do Vapor desaparecerão, instantaneamente, isto é, para o ano, já lá não estarão.
É, portanto, necessário pensar numa solução diferente (para os dois casos).
Aparentemente, só os técnicos do Ministério do Ambiente ignoram a solução do “fecho da Golada” em que têm insistido todos os técnicos e especialistas portugueses que desde há anos se têm preocupado com os problemas do estuário do Tejo.
Quando falámos desta solução aos responsáveis pela associação: “Cova do Vapor, Sempre”, eles disseram concordar em absoluto com ela, mas reagiram contra quando dissemos que esta solução abria a possibilidade de construir com custos reduzidos, um porto de águas profundas da Trafaria ao Bugio.
(Não confundir com o porto junto aos silos da Trafaria, felizmente já posto de lado, para o qual o actrual Secretário e Estado dos Transportes, Sergio Monteiro, sem qualquer espécie de estudos, pretendeu abrir imediatamente um grande concurso internacional.)
Compreendemos, perfeitamente, que os moradores queiram defender a manutenção da Cova do Vapor como um espaço com grandes potencialidades turísticas, em particular com o seu admirável pequeno porto de pesca e recreio.
Mas, em qualquer caso, o porto a que nos referimos não é uma prioridade e só poderá, eventualmente, vir a ser construido daqui a uma ou duas décadas.
Entretanto, o “fecho da Golada”, que a nosso ver é um projectos absolutamente necessário e urgente, poderá ter contribuido para o desenvolvimento turístico de toda a frente marítima de Almada, incluindo a Cova do Vapor.
E, mesmo no caso de vir a ser construido o grande porto referido, o admirável pequeno porto de pesca e recreio da Cova do Vapor poderá, provavelmente, ser salvaguardado, se os projectistas do grande porto a isso estiverem atentos.
Este assunto tem, portanto, de continuar a ser discutido. O “Jornal República” porá todos os meios ao seu alcance para que esta discussão se desenvolva.
De momento, o que fazemos é enviar hoje para o Ministério do Ambiente, para colaboradores nossos, para muitos autarcas, para orgãos da Comunicação Social, e, naturalmente, para a Associação de moradores da Cova do Vapor, um email com este mesmo texto.( 6 de Março de 2014)
António Brotas e Geoge Rupp