A Marcha da Rua 15
Fascinada pela Rua 15, uma Rua que fazia parte do primeiro Bairro dos Pescadores da Costa da Caparica, pelo seu aspeto típico com todo o chão pintado com quadras alusivas à praia e à pesca e pinturas do mesmo teor e sabendo que a mesma tinha uma marcha própria, tentei descobrir a história da Marcha da Rua 15 e informaram-me que quem me podia elucidar, seria o fundador da mesma, o senhor Joaquim Gonçalves Silva, um homem com 70 anos e com muitas recordações, que de bom grado partilhou comigo o que sabia.
Disse-me ele que a primeira vez que uma marcha da Costa se formou, indo desfilar a Setúbal e logo arrecadando o primeiro prémio, foi em 1956 e nasceu de uma ideia da antiga Direção Do Rancho Regional “Marisol Da Costa Da Caparica”, que era composta por o “Papo Seco”, Alves Martins, António Correia e o Mestre Chico, ensaiada por Gualdino, um homem já experiente em ensaiar marchas de Lisboa.
Depois de vários anos sem se voltarem a realizar eventos deste tipo e por volta de 1987 ou 1988 – não há certeza – aparece o saudoso João Manuel, o grande animador e dinamizador da Rua 15 e de toda a Costa, que, conjuntamente com a tia Emília decidiram formar uma marcha composta por gentes dos bairros da Costa, sem qualquer tipo de apoio institucional e imbuídos de muita vontade de animar o S. João nesta terra, recorreram aos seus próprios baús, para compor os trajes da marcha. A letra e música foram elaboradas pelo João Manuel e os músicos eram todos eles amadores e naturais da Costa, os ensaios decorreram na Escola Primária e por falta de fundos que abrilhantassem mais o desfile só foi efetuado na Costa, não tendo desfilado em Almada.
Em 1989 a antiga rádio da Costa, cujo responsável era o Sr. João Pinto, propôs a um grupo de amigos numa tarde de cavaqueira a retoma das marchas da Costa e o Sr. Joaquim Gonçalves Silva, nascido e criado na rua 15, estofador de profissão e que durante quase uma década, entre 1970 e 1980, ensaiava o rancho infantil e sempre se interessou por este género de atividades, reuniu-se com outras pessoas, também elas entusiastas por retomar a tradição das marchas, a dona Maria Adelaide, a Mónica, o Vítor, o Ismael Júlio a tia Maria Emília que viria a ser a madrinha, sendo o padrinho o sr Januário conhecido como “Quim Cavalinha”, infelizmente, também ele falecido este ano.
Foi através de um peditório entre os comerciantes da terra e 300 contos dados pelo Presidente da Junta de Freguesia, na altura o Sr. Marçalo Pina, que reuniram a quantia necessária para as despesas com os fatos, os arcos e o “Cavalinho” composto por 8 elementos do Montijo uns anos e noutros por um da Arrentela.
Era o Sr. Joaquim que se encarregava do desenho dos fatos, dos arcos, da coreografia e compôs algumas letras e músicas, como por exemplo: “A marcha do chafariz” com a participação do Sr. Gualdino.
Sob o comando do Sr. Joaquim a marca da Rua 15 ganhou nos desfiles de Almada 2 primeiros lugares 3 terceiros e um prémio de coreografia de artes e trajes.
Desde 1989 e até 2007 a marcha da Rua 15 desfilou todos os anos, sendo que em 1989 fê-lo em conjunto com o Bairro dos Pescadores organizado pela dona Inácia. Em 1990 nasceu mais uma marcha, a do Campo da Bola, organizada pela Dona Belmira e em 1991 seriam 5 as marchas de S. João: a Rua 15, duas do Campo da Bola e duas do Bairro Novo dos Pescadores.
O último ano, 2007, em que a Rua 15 marchou, foi com o tema “O Naufrágio do Pensativo” conseguindo o prémio de coreografia em ex aequo com a Marcha da Trafaria, chamada “A Tarrafa da Trafaria”, seguindo-se 7 anos de paragem, que segundo o Sr. Joaquim se ficou a dever a uma total falta de apoios, tanto da parte da Câmara de Municipal de Almada, como da Junta de Freguesia da Costa da Caparica. Outros motivos foram também a falta de local para ensaios, a feitura dos arcos e o acondicionamento de materiais e também por ser necessária “personalidade jurídica” através da formação de uma associação, o que finalmente conseguiram este ano. A associação chama-se “Costa da Arte à Tradição” sendo atribuído a cada marcha que se candidatou uma verba igual para todas, o que considera ainda insuficiente sendo necessário o recurso a peditório junto dos comerciantes e venda de rifas por alguns elementos.
A escola C + S disponibilizou o espaço para ensaios, num barraca das Terras da Costa, foram começados a construir os arcos pelo Sr. Joao de Almeida, que devido a um incêndio que lá deflagrou e cujas causas ainda estão por apurar, mudou-se para um espaço na “Irmanadora” que lho cedeu gratuitamente.
Os trajes foram confecionados por costureiras de Lisboa, já habituadas a estas lides nas marchas de Lisboa nomeadamente Alfama e Mouraria.
O tema deste ano da marcha da Rua 15 foi: “Rua 15 Volta a Marchar”, com letra de Fernando Santos música de Rafael Moura e arranjos de Aurélio Alegria.
A angariação de cerca de 50 marchantes, foi feita através de inscrições numa página do Facebook. Outros elementos vieram da marcha da Trafaria, que não desfilou por morte do seu ensaiador, e junto da população jovem da Costa de Caparica.
Brilham os olhos do Sr. Joaquim, vítima no ano passado de um AVC, ao recordar episódios e dificuldades na sua vida frente à marcha da rua 15, não tendo sido este percalço na sua saúde, impeditivo de chamar a si algumas tarefas para o melhor desempenho da marcha do seu coração, do qual passou a ser o padrinho e continuando a elaborar ideias e imensos projetos para os anos vindouros.
Na noite de S João, o Presidente da Junta de Freguesia, homenageou os fundadores das marchas da Costa de Caparica, a dona Maria Inácia, o Sr. Joao Gonçalves e a Dona Belmira, com a entrega de um “Meia Lua” em acrílico, pela sua dedicação na dinamização da tradição e cultura desta terra, essencialmente piscatória com uma frente de mar imensa e cristalina e que atrai ano após ano veraneantes dos 4 cantos do mundo.