A Morte da Livraria
Fechou a única livraria da Costa da Caparica. É um luto que tem de se fazer pela Livraria Capa Rica.
Primeiro foi o Sr. Américo que saíu. Américo era o nome que Mekito Beirão, o poeta, usava para deambular neste nosso mundo de todos os dias e dedicar-se a fins mais práticos e comezinhos.
Agora é o simpático Sr. Francisco que fecha as portas, terminando assim a vida da única livraria da Costa da Caparica, transformando-a numa cidade sem uma única livraria.
Não façam confusão, estamos perante uma baixa de peso.
Tendo em conta a gritante falta de equipamentos culturais públicos existente na Costa da Caparica, a livraria, apesar de muito pequena, ainda mantinha a chama acesa e prestava um serviço fundamental à cultura, não expressa apenas pelos títulos dispostos nos escaparates pois o Sr. Francisco encomendava tudo o que se pedia. Não poucas vezes foi ele que tratou das encomendas para a iniciativa mensal Livros, Autores e Leitores da Gandaia. Ser uma empresa privada, não fazia qualquer diferença, nem sequer era relevante.
O problema aqui é que as coisas vão desaparecendo, sem que os responsáveis públicos, a começar pelas autarquias, tenham uma reação adequada.
Há dois anos o Sr. Francisco ainda organizava uma Feira do Livro, mas essa iniciativa também desapareceu por falta de apoios.
As feiras de choiriços, as festas de futebóis é que estão a dar. É para isto que fazemos descontos? É para isto que nos representam?
Evidentemente, este é um caso gritante de ilegitimidade das autarquias para concorrerem com as empresas locais. A Câmara e a Junta não têm legitimidade para usarem os bens públicos (território e dinheiro) para concorrerem com os comerciantes existentes e pagantes de impostos. É ilegítimo, é desleal mas até pode ser legal. E voltamos à questão de que nem tudo o que é legal é legítimo, ou ético.
A autarquia não apoia a Livraria porque é privada, mas depois vai receber dinheiro para outra empresa ficar com a parte de leão, a exposição máxima da época alta, com feiras do livro de refugo. Estará isto certo?
A Câmara – que declarou a Costa da Caparica como uma prioridade – não investe em nenhum equipamento cultural. Aliás, nem sequer faz as obras que já aprovou, como o pavimento da Rua dos Pescadores, o mercado que está a cair, etc.
Mas já vai no terceiro festival.
E para nós que cá vivemos?