AEC Ou Algo Assim
Chama-se “aec_oualgoassim” e é totalmente gerida por alunos do Agrupamento de Escolas da Caparica. Num vídeo publicado na página do Instagram, Bárbara diz que a ideia é mostrar as “coisas fixes” que se fazem na escola e na Costa da Caparica. E Maria refere uma “forma interessante de chegarmos aos outros e de desenvolver a escrita”.
Esta página de fotojornalismo na rede social Instagram nasceu da participação de Ana Mercedes Pescada, professora de Português, no projeto – piloto do Sindicato dos Jornalistas. Foi ela que, em conjunto com outros dois colegas, também professores, Álvaro Oliveira e Laura Carvalho, trabalhou com os alunos para dar vida à ideia. “Aec”, de “agrupamento de escolas da Caparica; “oualgoassim””, porque podem surgir muitas coisas dentro deste projeto”, explica a docente.
Tudo gira em volta das fotografias, com três “hashtags”: “#sobrenós: a vida na escola e tudo o que aqui se passa; #sobreelesaquiaolado: a comunidade envolvente, as ruas, a cidade onde vivemos”; #sobreeleslalonge: a leitura de notícias em Portugal e no mundo”.
O projeto “nasceu do nada”, refere Ana Mercedes Pescada, já que a escola não tem recursos na área da comunicação e do jornalismo. Daí o deitar mão… ao que todos têm na mão. “Todos eles utilizam o Instagram. Sabem mais sobre o Instagram do que os professores”, portanto, são os alunos que decidem como gerem a página, competindo aos professores apenas a supervisão, com o objetivo de ensinar os alunos a usar os media de forma crítica e informada.
Até agora, não foram detetadas quaisquer imagens falsificadas. Pelo contrário, até tem havido algum excesso de zelo: “uma notícia de um campeonato de surf em que só se vê o mar…. não aparecem surfistas!!!”.
Desenvolver o espírito crítico, foi também o que quis Elsa Matos. A professora de Educação Tecnológica na Escola Secundária Eça de Queiroz, em Lisboa, aponta vários fatores que prejudicam a concentração na hora de analisar notícias. A começar pelo imediatismo do “click, a unidade de tempo” dos mais jovens, e a sua “natureza multitasking“, que faz com que tenham “sempre várias janelas abertas no computador”.
Neste projeto, Elsa trabalhou com alunos do 6º ano, numa escola onde não faltam recursos multimédia. Também começou pelas fotografias e viu crianças de 11 anos aprenderem a identificar sinais de manipulação das imagens. Ver, por exemplo, “o que estavam a fazer as pessoas por detrás do protagonista; de que lado estava a luz; se a imagem podia ser resultado de um corte”, foram alguns dos detalhes a que os alunos deram particular atenção.
Das fotos, estes pequenos estudantes passaram para a televisão. Para isso, inventaram uma notícia: a venda de gomas no bar da escola. Em três “telejornais” diferentes, a “notícia”, e as manifestações pró e contra que se lhe seguiram, foi tratada de três maneiras diferentes.
No final, Elsa era uma professora satisfeita, até porque foram muitos os alunos que detetaram, por exemplo, a necessidade do contraditório.
Literacia para os Media
Estes são apenas dois dos projetos concretizados pelos professores que participaram na iniciativa do Sindicato dos Jornalistas (SJ) de Literacia para os Media. Ao longo dos últimos meses, o projeto formou uma centena de professores de 40 agrupamentos escolares em todo o país.
O projeto resulta de uma parceria entre o SJ e o Ministério da Educação, financiado pela Direção-Geral da Educação. Presente na última sessão, em Lisboa, o Diretor-Geral, José Vítor Pedroso, não escondeu o interesse em, de futuro, alargar esta iniciativa a um maior número de escolas.