Areia? Sim. Mas à Vez
“O bombeamento de areia para terra só pode ser feita com uma ondulação abaixo dos dois metros e o vento também pode influenciar”, é assim que o presidente da Junta de Freguesia da Costa da Caparica, José Ricardo Martins, justifica o encerramento, à vez, em Agosto, das praias da cidade para reposição dos níveis de areia.
A operação de reposição de um milhão de metros cúbicos de areia nos diversos areais estava anunciada para Maio. Porém, Maio chegou e partiu, o mesmo aconteceu a Junho e, em Julho, sabe-se que afinal só será em Agosto. Contudo há um “se”. Se, entretanto, o Tribunal de Contas der o visto que permite a obra avançar. Avance a obra e, ainda sem o calendário completamente definido, as primeiras praias a encerrar, durante cinco dias, serão as da Saúde e Nova, seguindo-se a do Tarquínio-Paraíso, em princípio entre 19 e 24 de Agosto.
A realização dos trabalhos em plena época de Verão e numa das zonas mais procuradas por milhares de pessoas estão a causar indignação entre os comerciantes abrangidos. Acácio Bernardo, dono do bar Paraíso e com a concessão na área balnear que fica situada em frente, afirmou, na mesma reportagem, que “foi escolhida uma altura péssima. No nosso caso, temos de tirar tudo da praia do Tarquínio-Paraíso a 18 de Agosto. O que fazemos? Não pagamos às pessoas essa semana?”
O protesto de Acácio Bernardo, também presidente da Associação Apoios de Praia Frente Urbana da Costa da Caparica, é contrariado pelo presidente da Junta. Para José Ricardo Martins esta intervenção ao longo dos 3,8 quilómetros, entre a Costa da Caparica e a Cova do Vapor, “só podia ser feita nesta altura no Verão”, pois “o bombeamento de areia para terra só pode ser feita com uma ondulação abaixo dos dois metros”, sendo que o vento também pode influenciar, e ainda ser necessário contar com o movimento das marés.” O autarca garante que ainda não está fechado o calendário da intervenção, devido ao visto em falta do Tribunal de Contas, mas a previsão para concluir a transferência de areia e o enchimento das praias anda pelos 30 dias, mas pode chegar aos 45. Como adianta José Ricardo Martins “as praias encerrarão por uma semana cada e no total [a operação] deverá durar um mês, mês e meio. Mas é necessário, vai criar praia. Tem constrangimentos para as pessoas no seu dia-a-dia? Sim, mas temos de ver pelo lado positivo. É urgente fazer isto, pois não podemos ter a cidade exposta no Inverno, como aconteceu em 2014”, quando o paredão da cidade foi praticamente destruído e houve necessidade, além da sua recuperação, de encher as praias de areia. A operação de enchimento das praias com areia retirada ao largo e transportada para terra através de um tubo colocado num barco foi anunciada em Março pelo Ministério do Ambiente. A operação irá custar 6,3 milhões de euros, com parte da verba suportada por fundos comunitários.
Quem também não compreende a operação de colocação de areia nas praias nesta altura do ano, de acordo com o Diário de Notícias, é Francisco Ferreira, da associação ambientalista Zero. Ferreira refere que fazer uma acção destas “em Agosto é um factor de perturbação da época balnear”, e questiona se valerá a pena investir seis milhões de euros neste tipo de trabalhos. Para o ambientalista, o valor do investimento “é muito elevado para a manutenção, sem se resolver estruturalmente o problema. E é essa discussão que tem sido adiada. Como é uma decisão difícil ninguém quer tomar medidas mais drásticas.” Para Francisco Ferreira importante é discutir-se opções como a de “realojamento de pessoas e equipamentos junto das praias”, já que “com a subida do nível das águas do mar e o surgimento cada vez mais de eventos extremos, se calhar vamos ter de tomar medidas drásticas. Isto
[reposição de areia]
é um remédio enquanto não temos coragem para soluções mais dramáticas”, concluiu.
E agora, o Largo das Tábuas
Os problemas que opõem comerciantes e autarquia nesta época balnear, todavia, não se limitam ao encerramento provisório de praias e os primeiros queixam-se do impacto que as obras de substituição do pavimento provocam no largo junto às praias.
Agora, com todas as tábuas retiradas, de acordo com o plano há meses divulgado na edição em papel do Notícias da Gandaia, seguem-se trabalhos de consolidação do terreno e colocação de um campo de futebol de praia e dois de voleibol, para, em segunda fase, surgirem espaços com máquinas de ginástica de manutenção e áreas verdes. A Associação Apoios de Praia Frente Urbana da Costa da Caparica contesta a oportunidade da intervenção. Para Acácio Bernardo estas prejudicam um negócio que é sazonal. “Estou a perder entre 30 por cento e 40 por cento da facturação mensal.” Além de que, garante o presidente da associação que reúne 21 comerciantes locais, a obra afasta clientes, já que “ninguém quer estar num sítio com máquinas a fazer barulho e pó.” Outro ponto em que o presidente da Junta vê, pelo contrário, nas suas declarações ao Diário de Notícias, um copo meio cheio. Diz: “O espaço vai ficar muito melhor do que estava. Não quisemos deixar passar mais um Verão. E os concessionários têm entrada pelo lado exterior. Aquilo como estava era perigoso.”