As Raízes…Sempre as Raízes
« Já escrevi uma vez sobre os lugares de onde somos para sempre. Se calhar até muitas mais, porque têm sido anos de despedida das casas onde cresci. Tenho perdido muita gente, uns foram para longe, outros para mais perto, outros para sempre. Ontem quando fazíamos a estrada para Sul para mais uma despedida, ia-me lembrando de quando esta viagem era enorme (e era impensável ir e voltar como agora). Dizia-se sempre que se ia passar um tempo ao monte das tias. Era miúda, as férias eram gigantes, a vida fazia-se com muita calma. O monte ainda lá está, as paredes grossas, a casa do velho Albardas, os tarros de cortiça e pratos de bolinhas. Mas há muito que deixou de ter as tias e as suas milhões de rotinas. Ficam algumas fotografias, muitas memórias fabulosas de verões no campo e muitas saudades destas tias que tanto me ensinaram e que tão bem me trataram a vida toda». Estas são as palavras escritas pela minha querida neta Inês em 6 de Julho de 2018, sobre o nosso Alentejo que é o lugar das nossas raízes. O monte é junto à aldeia de Santo Amaro (no concelho de Sousel), a que nos ligam tantas lembranças, tantos momentos de felicidade, que vivemos na nossa juventude. A saudade começa agora, e não há dúvidas que vai permanecer, e que vamos pensar sempre nesses tempos que nos deixaram marcas profundas, bem vivas, que nunca mais nos vão deixar.
Na foto que ilustra estes pequenos textos sou eu e meu irmão Vasco em Junho de 1943. O monte dos meus avós maternos fica lá atrás, com as árvores envolventes, lá no alto. É este lugar mágico que preenche as nossas almas, esta Saudade que nunca morre.
Neste meu pequeno poema deixo tudo o que sinto neste momento: Foram arrancadas as raízes da minha Vida / Num instante tudo mudou / Fiquei órfão dos meus passados / Senti uma dor no meu peito / Dor de partir dos lugares / Daqueles onde cresci / Onde via o Sol nascer / As noites de luar com as estrelas a dançar / Como dádivas da Natureza / Que não mais podem voltar. / As palavras são poucas para lembrar esse momento / Como que enxotado / Arrastado pelo vento / Dos lugares que foram meus.
O grande poeta Manuel Alegre, que tanto ama este Alentejo, escreveu estes versos que não resisto a transcrever para esta crónica:
«Incapaz de não ser senão diferente / há um modo de calar e um falar claro / um olhar cara a cara e frente a frente / um viver devagar que tudo é raro / e único e só assim urgente.»
António José Zuzarte, Costa da Caparica, 10 de Março de 2019.