Brecht Abre Festival
A Boda, de Bertolt Brecht, é a primeira peça da programação do 36º Festival de Almada em cena no Palco Grande, na Escola D. António da Costa, na noite de quinta-feira, dia 4, primeira de um acontecimento que se prolonga até 18 de Julho.
Com encenação de Ricardo Aibéo, para a companhia Sul – Associação Cultural e Artística, e interpretação de David Almeida, Dinis Gomes, Duarte Guimarães, João Craveiro, Luís Lima Barreto, Márcia Breia, Rita Durão, Rita Loureiro e Sofia Marques, o texto de Bertolt Brecht, escrito em 1919, é do tipo “insolente e burlesco”. Inspirado num quadro do seu amigo Karl Valentin, o dramaturgo foi “beber às feiras e festas da cerveja à boa moda e tradição alemãs da sua cidade natal de Augsburg, na Baviera”, para construir um retrato ácido do casamento enquanto ritual celebratório e sacramento, mas, principalmente, como “instituição na qual assenta a vida adulta e a existência de pessoas cedo condenadas à hipocrisia”. Apresentada pela primeira vez em Franqueforte, em 1926, a peça foi um escândalo desde o dia da estreia até ao do seu repentino cancelamento – mas nem por isso saiu do reportório brechtiano.
A programação de teatro e dança (não esquecer que, com estas, convivem outras artes, como a música, que tem lugar marcado no Palco da Esplanada da Escola D. António da Costa; e ainda que, além do programa de colóquios e cursos, há duas exposições de homenagem ao encenador Carlos Avilez, fundador do Teatro Experimental de Cascais homenageado pelo festival) prossegue até meados do mês com destaque para o regresso ao palco de Maria de Medeiros, além da decerto mais mediática apresentação de Isabelle Huppert, dirigida por Robert Wilson, em Mary Disse o Que Disse. Mas esta edição é também palco de estreias, como, por exemplo, Se é Isto um Homem, de Primo Levi, que Rogério de Carvalho encena com interpretação de Cláudio da Silva, ou O Sonho, de August Strindberg, dirigido por Carlos Avilez, sem esquecer Un Amour Impossible, onde Maria de Medeiros vai partilhar o palco do Teatro Municipal Joaquim Benite com Bulle Ogier (com certeza mais conhecida em Portugal pela sua participação em filmes como O Charme Discreto da Burguesia, de Luis Buñuel, e L’Amour Fou, de Jacques Rivette), ambas dirigidas por Célie Pauthe.
Mais discretos, mas nem por isso menos qualificados ou menos dignos de atenção, estão espectáculos como Macbettu, com direcção de Alessandro Serra, apresentado como “um Macbeth em língua sarda”, e considerado Espectáculo do Ano, em 2017, pela Associação Nacional de Críticos de Teatro em Itália. Outra peça que não se deve perder é Provisional Figures (dias 5, 6 e 7, na Incrível Almadense), resultado do projecto de Marco Martins com não-actores em Great Yarmouth, no Reino Unido. Mudando de língua, múltiplas são as presenças do castelhano na programação, começando com La Partida, de Vero Cendoya, espectáculo de rua para cinco bailarinas, cinco jogadores de futebol e um árbitro, a partir de textos de Eduardo Galeano, marcado para a Praça São João Baptista na sexta-feira, segundo dia de festival; e continuando com Rafael Álvarez encenando Ésquilo em Nacimiento y Muerte de la Tragedia, ou a companhia T4, de Buenos Aires, que trás consigo Un Poyo Rojo, e, também da Argentina, País Clandestino, de Maëlle Poésy e Jorge Eiro. Já o Théâtre de Nîmes, de França, leva à Escola D. António da Costa Franito, uma revisitação do flamenco encenada por Patrice Thibaud, enquanto a companhia Non Nova, de Nantes, apresenta Saison Sèche, peça estreada no Festival de Avignon, o ano passado, com encenação e dramaturgia de Phia Ménard e Jean-Luc Beaujault. Por sua vez, as companhias 1er Temps, de Dacar, e ABC, de Paris, trazem a Almada De Quoi Sommes Nous Faits?!, uma proposta coreográfica de Andréya Ouamba para quatro intérpretes com encenação de Catherine Boskowitz. O espectáculo de honra deste ano – como de costume escolhido pelo público da edição do ano passado para repetição em 2019 – é Dr. Nest, da companhia alemã Familie Flöz, e vai ser levado à cena no dia 14, na Escola D. António da Costa.