Câmara de Almada: Muito bem, Mal e Péssimo
A Câmara Municipal de Almada tem um novo panfleto turístico dedicado à Arte-Xávega, muito bem feito, em duas línguas, Português e Inglês, incluindo também um mapa das praias onde se pode assistir à faina.
O panfleto, intitulado “Arte Xávega (sem hífen) para descobrir ao entardecer” tem um pequeno texto onde refere que várias famílias da Costa da Caparica se dedicam à Arte-Xávega, geração após geração, com o cuidado de o traduzir, como já referimos, também em inglês. O mapa, simples mas claro, está também nas duas línguas. Curiosamente, nos contactos úteis, em Português, tem o cuidado de incluir a Junta de Freguesia, mas tudo o resto é Câmara de Almada e empresas municipalizadas.
Esteve muito bem a Câmara Municipal de Almada em começar a divulgar a Arte-Xávega como parte do cartaz turístico da localidade. Muito bem.
O que continua a parecer mal é a opção centralista de tudo ser Almada. Porquê? Almada Turismo, Experimente Almada, sempre a mesma marca, parece não fazer sentido. Pior, tendo em conta que os investimentos da CMA têm sido na sua quase totalidade nas freguesias urbanas de Almada, pouco nas outras e quase nada na Costa, o centralismo não democrático da atual gestão municipal raia os limites soviéticos. Quase parece provocação.
A coisa piora quando nos lembramos do CostaPolis em que a Câmara tem 40% da responsabilidade e assume a posição de que não tem nenhuma. A Sra. Presidente, Maria Emília de Sousa, membro do Comité Central do PCP, não tem a mesma posição, por exemplo, em relação ao CDS, membro minoritário dos governos de Passos Coelho e Durão Barroso, mas que são responsabilizados de igual forma. Fica-lhe mal enjeitar aqui responsabilidades e, sobretudo, não assumir correções.
Está mal a Câmara em não diversificar as suas marcas – e também os seus investimentos. A Costa da Caparica é claramente uma terra de turismo. Tem uma marca – Praia do Sol e um século de trabalho nessa marca. Para quê ignorá-la? Somos assim tão ricos que podemos deitar fora este bem? Podemos dar-nos ao luxo de não colaborarmos?
Pior ainda, pior que pior, loucura mesmo, é o remédio encontrado para o disparate de ter deslocado o Transpraia para as cafunfas da duna da Praia Nova onde ninguém o vê. Uma pérola turística que se arrasta a caminho da falência devido aos erros disparatados do CostaPolis que assassinaram a relação entre o centro da cidade – a vila – e a praia, criando o “Largo da Tábua”, inútil, inóspito e insustentável, sem o Terminal do Transpraia, asfixiando esse cartaz turístico que distinguia a nossa terra, quebrando a ligação do centro com as praias a sul, até à Fonte da Telha e os parques de campismo que ficam a caminho.
Mataram também o “estádio” de futebol de praia onde se realizavam campeonatos e concertos e mataram também a centralidade que ali existia – até um carrossel – e que determinava a realização de diversos espetáculos televisionados no verão. A troco de quê? Nada! Disparate em absoluto. Prepotência de quem não teve o cuidado de entender a terra, o território, a vida local.
Ora este ano, surgiu uma solução para o disparate da “deslocalização” do terminal do Transpraia. A solução? Um disparate ainda maior: uma carreira da TST até à Torre das Argolas, anunciada num grande cartaz da Câmara. Até parece bem, não parece? Ao ver o autocarro descapotável, até parece que a coisa vai no bom caminho. Não. Trata-se da carreira 183 da TST, Trafaria -Torre das Argolas. Preço do bilhete: 2,20 € do Largo da Tábua (ou da Trafaria) ao Terminal do Transpraia. Está tudo louco?
A carreira da Trafaria num autocarro descapotável é claramente uma boa ideia, porém, apresentá-la como solução para o disparate feito com o Transpraia é que é trapaça intelectual e, a um mês das eleições, até parece que nos está a chamar estúpidos.
Está péssima a Câmara nesta situação. Primeiro porque não é aceitável o argumento de que por ser minoritária não tem responsabilidade no que foi feito pelo CostaPolis. Tem TODA a responsabilidade até porque era a nossa representante e… representou quem? Apetece dizer Almada, não é? Sempre e só Almada. Falhou-nos a nós caparicanos.
Ora é precisamente isto que se tem de evitar! Ao ter esta abordagem monolítica e asfixiante – soviética – acinta-se a distância onde se deveria encorajar a união. Não é por aqui, claramente que não é. pelo contrário. É tempo de emendar estes erros. Especialmente estes, que não são tão difíceis de resolver, pois dependem exclusivamente de nós e alguns são só tinta num papel, determinação, vontade, muitos não implicam sequer quaisquer custos.
Finalmente, apesar das críticas que faço – que não são novas – é preciso ter os pés assentes na terra e não embalar numa crítica destrutiva à gestão camarária que agora cessa. Apesar da discordância, clara e de há muito, em relação a várias decisões na Costa da Caparica, não se pode esquecer o trabalho realizado no concelho (quem o viu e quem o vê) e, muito importante, o fato de sair de décadas de gestão sem deixar dívidas para os outros pagarem (nós, claro). Não tenho a mínima dúvida de que o concelho de Almada fica com uma dívida para com Maria Emília de Sousa e os seus vereadores. Na Costa, porém, as contas são claramente outras.