Camioneta do Lixo
A Camioneta do lixo e o sol
Naquele tempo no meu bairro a maioria das casas eram feitas de madeira (vulgo barracas), não havia água canalizada, electricidade ou saneamento básico; o piso do bairro era de areia e era ali onde as mulheres despejavam os penicos que nós (crianças) brincávamos durante o dia com o resultado que se imagina, pois andávamos na maioria dos casos descalços!
No Inverno, o frio e a chuva entravam pelas “gretas” das tábuas chegando-nos por vezes aos ossos. Lembro-me dos “Invernos terríveis” desse tempo em que o conforto no interior da maioria das habitações era privilégio de uma minoria, sendo que na maioria dos casos o fogareiro onde se fazia a comida era mantido aceso como fonte de aquecimento caseiro.
A água era trazida do chafariz (que ainda lá está, mas como ex-libris do bairro), em bilhas, baldes e até em grandes latas. A luz era fornecida pelos candeeiros a petróleo e as necessidades fisiológicas eram feitas em penicos ou numa espécie de grandes “bilhas” de boca larga.O banho era tomado (não diariamente) em enormes alguidares.
Mas desse tempo de grandes carências materiais (miséria, digo eu), guardo na minha memória algo que acontecia quase diariamente e que era o seguinte: A chegada matinal da camioneta do lixo que se assemelhava a uma enorme lata de pão (daquelas que se abriam lateralmente,lembram-se?) sobre rodas. E querem saber porque retenho na memória esse corriqueiro acontecimento? Era porque à hora a que a camioneta chegava à minha rua chegava também o sol e nesse momento eu sabia que era chegada a hora de sair para a rua onde encostado à barraca eu ia receber em todo o meu magro corpo de criança o calor (e como era bom!!) irradiado para mim pelo Astro-Rei!!
PS: O meu bairro é o antigamente chamado de Ilha do Sumiço e a minha rua era chamada de Rua 15, hoje Mestre Adrião.
Costa Da Caparica, 22-02-2018
Manuel Ribeiro