Caparica Dá Exemplo
A Costa da Caparica vai servir de exemplo num sistema de alerta para situações de agitação marítima em que o mar possa avançar pela costa, levando a ações de prevenção, revelou hoje um especialista em erosão do litoral.
“Há um projeto que tem como objetivo criar um sistema de alerta, uma rotina de alerta, para este tipo de costa, usando a Costa da Caparica, como exemplo, e para portos”, utilizando um dos Açores igualmente como exemplo”, disse hoje à agência Lusa José Carlos Ferreira, docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da Universidade Nova de Lisboa.
Com base no conhecimento recolhido com o estudo da erosão na costa portuguesa nos últimos anos, os mapas de risco definidos e a informação recebida de vários organismos internacionais, nomeadamente de meteorologia, sempre que se gerarem condições de agitação marítima, “pretende-se identificar áreas onde podem ocorrer galgamentos, onde a água pode entrar, e lançar um alerta, numa ação de prevenção, direcionado para as autoridades competentes, como a proteção civil”, relatou.
José Carlos Ferreira, que participou no grupo de estudo do litoral, criado pelo Ministério do Ambiente, falava à agência Lusa a propósito da conferência “Vulnerabilidade e Gestão do Risco Costeiro — que soluções para a Costa da Caparica?”, que se realiza ao final do dia de hoje, e vai juntar vários técnicos para debater as bases da nova “Estratégia para a Zona Costeira de Portugal em Cenários de Alterações Climáticas”.
O investigador, que se dedica a estudar as formas de erosão na Costa da Caparica, explicou que, com base na análise das últimas tempestades de 1996, de 2007, de 2010 e de 2014, os especialistas conseguem perceber a forma como o litoral foi afetado.
A Costa da Caparica “está numa zona de risco, embora de risco controlado”, e poderá beneficiar da abordagem da nova estratégia que “contempla uma mudança de paradigma”, apostando “mais na engenharia natural, nos enchimentos de praia, no restauro dunar, que parecem ser mais eficientes do que as obras de defesa pesada”, como os paredões, mais seguidas nos últimos anos, salientou José Carlos Ferreira.
Os estudiosos, explicou, perceberam que a Costa da Caparica está em erosão “sobretudo por falta de sedimentos para repor o sistema, por isso é que desaparecem as praias e a costa recua, [além de que] as pessoas ocuparam áreas que habitualmente eram amortecedores quando o mar entrava: as dunas e as praias”.
Para enfrentar o avanço do mar e a erosão, “ou não se faz nada e as pessoas vão ter de recuar, ou se aposta numa ação de ajuda ao sistema a repor as suas defesas”, resumiu o docente da FCT, esclarecendo, contudo, que “isto não quer dizer que seja mais barato”, à partida.
“Estudos que temos estado a fazer mostram que não é assim tão barato, mas é mais eficiente”, salientou o especialista, acrescentando que o resultado final “não será mais caro” porque as soluções adotadas têm sido obras “muito pesadas que têm de ser mantidas” e reconstruídas depois de cada temporal, exigindo investimentos elevados e contínuos.
Recordou dados que apontam para investimentos totais de 196 milhões de euros gastos entre 1995 e 2014, sendo quase 20% para Almada, seguindo-se os municípios de Ovar e Espinho, com 11% e 9%, respetivamente.
Depois dos últimos temporais, a Câmara Municipal de Almada avançou com trabalhos de reposição de areia em praias da Costa da Caparica, ajudando o sistema marítimo a retomar o ciclo natural de defesa litoral, e o especialista realçou que os resultados já são visíveis.