Cassiano Branco 1930
O Arquivo Municipal de Lisboa destacou a proposta de Urbanização de Cassiano Branco para a Costa de Caparica (1930), publicando o artigo seguinte na Internet. Pode ler o original clicando aqui. pelo óbvio interesse para a nossa comunidade,o Notícias da Gandaia publica aqui na íntegra este texto e, no final deste artigo, pode ver uma reprodução maior da imagem.
O Arquivo Municipal de Lisboa tem à sua guarda documentação de valor incalculável para o estudo da arquitetura, não apenas da capital, mas de Portugal. Entre outros exemplos, destaca-se a documentação de Cassiano Branco, do qual destacamos este mês um pormenor da solução urbanística que propôs para a Costa da Caparica em 1930.
Cassiano Branco nasceu em Lisboa, a 13 de Agosto de 1897, cidade onde faleceu a 24 de Abril de 1970. A sua obra de grande riqueza formal, foi desenvolvida entre o início dos anos 20 e o final da década de 1960, e afirmou-o como um dos arquitetos que mais marcam a história da arquitetura portuguesa da primeira metade do século XX.
Em 1930, com apenas 32 anos, apresentou um dos seus projetos mais ambiciosos e vanguardistas, bastante difundido na imprensa estrangeira da época, que, todavia, nunca chegou a ser construído: o plano de urbanização da Costa da Caparica, que se estendia até à Fonte da Telha, aqui visível numa impressão colorida sobre cartolina, com 135 x 240 mm.
Esta visão exuberante, de um extraordinário visionário moderno, que nos remete para os planos de Le Corbusier para Paris ou para as propostas da Cittá Nuova de Sant’Ellia e a tese de Tony Garnier sobre a Cité Industrielle, revela o interesse de Cassiano Branco pela escala urbana e pelos problemas do urbanismo, podendo ser considerada o grande projeto utópico da arquitetura portuguesa dos anos 30: um passeio que se estende ao longo da marginal; um amplo canal artificial, paralelo ao Atlântico, para a prática de desportos náuticos, com pontes pedonais que permitem aceder à praia e aos equipamentos lúdico-culturais e às zonas habitacionais; um grande hotel de luxo com 1500 quartos e um hotel mais acessível, em termos de custo para os seus potenciais clientes, com 2000 quartos; um balneário com piscina coberta; teatro, cinema e casino; salões de conferências e festas; um extenso campo desportivo situado na base da falésia; um teatro ao ar livre com 5000 lugares; para lá de um cais acostável, uma pista para aviação de turismo e inúmeros e amplos espaços de estacionamento.
Este desenho, a par de outros, de Cassiano Branco para a Costa da Caparica parecem evocar os relatos californianos de António Ferro, que fariam deste extenso areal a “Los Angeles” que faltava à Europa. Não podemos esquecer que nesta época, Cassiano Branco trabalhava para um grupo económico que, a par do futurista plano para Costa da Caparica, pretendia construir a Cidade do Filme Português, em Cascais, projeto que este arquiteto apresentou também em 1930, mas que, também não passou do papel.
A proposta de transformação da Costa da Caparica, ao contrário dos aristocráticos Estoril e Cascais, destinava-se às massas, mas dificilmente poderia ser viável, do ponto de vista económico, no Portugal dos primeiros anos do Estado Novo. Todavia, faz-nos pensar, sobretudo tendo em conta o profundo desordenamento urbano atual desta zona costeira, na importância que teria para a mesma.
As principais obras projetadas por Cassiano Branco, sobretudo as traçadas até ao final dos anos 30, inserem-se numa geração de novos arquitetos portugueses, que incluía Cristino da Silva, Carlos Ramos, José Segurado, Pardal Monteiro, Adelino Nunes, Cottineli Telmo, Gonçalo Melo Breyner, Norberto Correia, Raúl Martins, Veloso Reis Camelo, Paulino Montês e João Simões em Lisboa; Rogério de Azevedo e M. Marques no Porto, que se afirmam no final dos anos 20 com obras revolucionárias.
Cassiano Branco foi, entre os arquitetos desta geração, aquele que produziu obra mais vasta e, sem dúvida, notável, destacando-se em Lisboa, o cinema Éden, o hotel Vitória, o stand Rios de Oliveira, o café Cristal, o plano de reintegração do Rossio, os alpendres para os Restauradores e Rossio, o plano de urbanização da exposição do Mundo Português de 1940, ou o cinema Império, mas também o coliseu do Porto, o Grande Hotel do Luso, ou o Portugal dos Pequenitos, em Coimbra.
Excluído pelas fortes convicções políticas (a favor de arquitetos politicamente alinhados com a ordem imposta pelo Estado Novo, de que era opositor declarado) dos concursos para lecionar na Escola de Belas Artes de Lisboa e das encomendas oficiais de maior estatuto e visibilidade, a parte mais considerável da sua obra tem origem em clientes particulares e construtores civis, maioritariamente através de encomendas de prédios de rendimentos.
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