Cintra Regressa em Almada
É um dos acontecimentos mais esperados do ano teatral português. O que não espantará ninguém quando a apresentação de Um D. João Português, no Teatro Municipal Joaquim Benite, nos dias 10 e 11 de Março, é, de facto, o regresso de Luís Miguel Cintra ao teatro depois de, em 2016, a Cornucópia ter concluído a sua actividade de 40 anos.
Este espectáculo em duas partes (sábado, dia 10, às 21.30, e domingo, dia 11, às 16.00) criado a partir da comédia O Convidado de Pedra ou D. João Tonorio, o Dissoluto, de Molière, que inclui textos de O Mendigo ou O Cão Morto, de Bertolt Brecht, é a nova proposta do actor e encenador, aqui, com muitas outras vezes, igualmente responsável pela dramaturgia. Luís Miguel Cintra (que estará presente na habitual Conversa com o Público, marcada para o dia de estreia, às 18.00) preparou esta peça com um grupo de actores “cujo percurso se cruzou com o do extinto Teatro da Cornucópia”. E nesse processo, juntos visitaram, ao longo do último ano, Montijo, Setúbal, Viseu e Guimarães, realizando uma série de residências artísticas que permitiram ir preparando e apresentando, à vez, “as quatro partes em que dividiram um espectáculo baseado numa tradução setecentista, anónima, da peça D. João, de Molière.”
André Reis, Bernardo Souto, Dinis Gomes, Diogo Dória, Duarte Guimarães, Guilherme Gomes, Joana Manaças, João Jacinto, João Reixa, Leonardo Garibaldi, Levi Martins (igualmente responsável da direcção
de produção), Luís Lima Barreto, Maria Mascarenhas, Nídia Roque, Rita Durão, Sílvio Vieira, Sofia Marques e o próprio Luís Miguel Cintra são os intérpretes desta produção, com luz e som da responsabilidade de Rui Seabra, e assistência de produção e encenação de Maria Mascarenhas, protagonistas desta montagem, em Almada apresentada em duas sessões.
Na primeira parte, “acompanhamos a fuga de D. João e do seu criado Esganarelo, depois de o primeiro ter morto o pai de uma amante e voltado as costas a D. Elvira, a quem prometera casamento.” Por sua vez, na segunda parte, “o herói prepara-se para oferecer um jantar à estátua do comendador morto, mas as recriminações de um credor do próprio pai e de D. Elvira vêm adiar o seu encontro com o cadáver. O protagonista, no entanto, parece incapaz de sentir remorsos.” Remorsos que a adaptação de Cintra evita julgar, tornando assim mais complexa a sua condenação, em consequência universalizando o conteúdo da peça até a tornar numa “reflexão sobre a actual crise de valores, o conceito de responsabilidade individual e colectiva, e as noções de Bem e de Mal.”