Comboios Só de Pé
Mais lugares nos comboios da Fertagus parece uma boa notícia. Até se saber que são em pé e que esta é a maneira que a companhia encontrou para corresponder ao aumento de procura após a queda do preço dos passes. Dias antes deste anúncio, o braço ferroviário do grupo Barraqueiro e o governo renovaram o contrato de concessão até 2024.
A empresa que opera os comboios sobre a ponte 25 de Abril recebeu a autorização do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) para alterar o interior dos veículos e assim responder ao aumento de procura que se verifica desde Abril, quando entraram em vigor os novos passes. Com as mexidas no interior cada composição terá mais 48 lugares disponíveis, isto é, há menos 112 lugares sentados e mais 160 lugares de pé, o que é possível através da colocação de varões e barras horizontais na entrada das carruagens onde se concentram mais passageiros. Esta medida está a ser testada desde o final de Maio e a empresa admite ainda aumentar de novo o número de horários disponível. “Fizemos estudos, contagens e inquéritos aos clientes para ver a adequação do que tínhamos montado. Estamos em condições de avançar para a redução [de lugares sentados] e durante o mês de Janeiro os comboios ficarão todos preparados”, disse Cristina Dourado, administradora delegada da Fertagus, após a assinatura do prolongamento da concessão do serviço ferroviário na Ponte 25 de Abril até Setembro de 2024.
A Fertagus foi uma das empresas onde mais se sentiram os efeitos do programa de redução do preço dos passes: houve um aumento de 40 por cento no número de utilizadores, ou seja, todos os dias há mais de 98 mil utilizadores nos comboios que ligam as duas margens do Tejo. Por isso, a transportadora do grupo Barraqueiro admite reforçar, de novo, os horários, durante o próximo ano. “Temos em carteira a possibilidade de fazer mais alguma coisa com os horários”, assume Cristina Dourado, recordando que, em Setembro, a empresa reforçou a oferta de viagens em 10 por cento através do aumento dos comboios com oito carruagens e do aumento das ligações entre Lisboa e Setúbal.
De acordo com o novo contrato de concessão, a Fertagus vai ficar responsável pelos comboios da Ponte 25 de Abril até Setembro de 2024 (a não ser que o Estado pretenda resgatar a concessão a partir de 28 de Fevereiro de 2023). Esta decisão foi tomada por três factores, segundo a responsável da empresa: “O aumento da taxa de utilização da infra-estrutura, em Dezembro de 2011, para valores acima do que estavam contratualmente estabelecidos; o não aumento tarifário decidido pelo Estado; e a alteração decorrente do PART, que levou a reequacionar todo o modelo de definição do tarifário.”
Por seu lado, o Estado, em vez de indemnizar a transportadora em cerca de 7,4 milhões de euros, prolongou a concessão por mais quatro anos e nove meses e, tal como nos últimos nove anos, a Fertagus não vai receber um cêntimo de indemnização compensatória do Estado. O novo contrato também prevê que os aumentos de preço dos bilhetes apenas possam ser feitos conforme a “actualização tarifária que vier a ser definida pela Área Metropolitana de Lisboa”, segundo as bases de concessão publicadas na semana passada em Diário da República. Até agora, a empresa podia “fixar livremente o tarifário, mediante actualizações reportadas a 1 de Janeiro de cada ano, até um ponto percentual acima da taxa de inflação prevista na proposta de Orçamento do Estado para o ano em causa.” Se a inflação real fosse diferente da prevista “a respectiva diferença” era “considerada na actualização tarifária anual seguinte.”
Quanto ao futuro, quando o actual contrato de concessão terminar, a transportadora admite volte a concorrer para continuar a operar este serviço. “Certamente iremos concorrer a um novo contrato. Estamos aqui há 20 anos. O concurso inicial iria durar 30 anos, prorrogáveis por mais 15 anos. De certeza iremos fazer os possíveis para podermos continuar.”