Conclusões Res Pública
A Res Pública realizada no Auditório Costa da Caparica no passado dia 20 de setembro de 2016, terça feira, consagrada a questões de acessibilidade, constituíu um debate muito vivo e de onde saíram diversas questões sentidas como mais importantes, assim como sugestões mas também “exigências”, uma vez que – tal como foi referido – “há muitas promessas, discursos muito bonitos, mas as coisas mantêm-se na mesma e a mesma é muito má e nada tem a ver com o que se diz…”
A sessão começou com uma introdução do seu coordenador Reinaldo Ribeiro, a qual transcrevemos mais abaixo.
O primeiro aspeto debatido foi uma comunicação de António Fonseca sobre a sessão camarária sobre o tema da “Ecomobilidade”. Além da premissa essencial das comunicações nessa sessão: “sentir-se bem onde se vive”, foram apontados 5 soluções graduadas de mobilidade: caminhar, pedalar, usar transportes públicos, partilhar boleia e, em último caso, carro pessoal.
Considerando que 77% da população europeia vive em cidades, estas soluções, sobretudo a sua graduação, ganham um relevo essencial.
Adérito Ramos apresentou um aspeto fundamental e crítico: o alargamento do Metro Sul do Tejo até à Costa da Caparica. De forma unânime, todos consideraram inaceitável que este transporte essencial e não poluente, tendo um canal já cativo, assim como material circulante e faltando apenas estender carris, tenha parado no Monte da Caparica perto da Faculdade de Ciência e Tecnologia. Não se entende.
Não se compreende que a Costa da Caparica não estivesse nos planos iniciais do MST, não se compreende que estivesse em nenhuma das fases até agora previstas. Não é racional nem é aceitável, não só por todas estas razões, mas uma outra: a afluência decerto constituiria um aumento significativo de lucro, o qual poderia muito bem apoiar o MST no resto da linha.
Além de António Fonseca reportar que a construção de estradas não é solução pois resulta em maior tráfego automóvel, Manuel Torres referiu um estudo da CP para a linha de Sintra, ainda nos anos 90, em que se pensou em duplicar as vias, mas cuja conclusão era idêntica à das estradas: mais vias resultavam em maior desenvolvimento habitacional, comercial e industrial, que rapidamente saturavam a oferta.
Este residente viria a indicar 3 pontos essenciais: ciclovias, coordenação de transportes e organização dos parques de estacionamento.
A aposta numa rede ciclável foi outra unanimidade. Incrementar o uso da bicicleta, criar ciclovias realmente funcionais – e não pequenas e estreitas faixas só com motivos eleitorais – unindo a Frente Atlântica, mas também Almada, promovendo o acesso às praias através da bicicleta.
Tal como anteriormente referido em relação a linhas de combóios ou estradas, mais ciclovias representam maior uso de bicicletas.
Manuel Torres veio depois apontar a necessidade de ordenar e gerir os parques de estacionamento junto às praias, especialmente recordando a tragédia ocorrida no Festival Andanças, onde um incêndio numa viatura acabou queimando centenas de carros. Antes que uma coisa destas ocorra, é urgente tomar medidas. A forma caótica como os parques estão a ser (des)organizados só pode trazer maus resultados.
Finalmente trouxe um aspeto que, apesar de não representar qualquer custo, poderia trazer enormes benefícios: a coordenação de horários entre os transportes públicos, diminuindo os tempos de espera e tornando as deslocações fluidas e facilitadas.
Vítor Almeida, lamentando a ausência de representantes da Junta de Freguesia e da Câmara, apresentou diversos exemplos de como a desorganização e a falta de intervenção das autoridades competentes conduziam à situação de “bagunça” em que estamos. Um dos aspetos foi o estacionamento em frente ao restaurante Carolina do Aires, em zona proibida e mesmo em frente à Autoridade Marítima, sem que esta intervenha.
Donzília Fernandes acrescentou a falta de respeito pela interdição ao trânsito na Rua dos Pescadores – a começar pela GNR – pelos camiões de entrega de bebidas, “que antes tinham uns carrinhos de mão para fazer as entregas, mas agora, como tudo é permitido, levam os camiões até à porta, quando mal se pode passar pela rua”.
Esta residente apontou ainda as dificuldades já sentidas para os peões circularem na Rua dos Pescadores: “autorizaram a esplanada enorme do Hotel Praia do Sol e do outro lado as lojas estendem-se pela rua fora, mal há espço para as pessoas passarem…”
Finalmente a questão da TST, em que foram apontadas questões de enorme gravidade, como pessoas a perderem o seu emprego por atrasos consecutivos devido ao incomprimento da TST. Joaquim Tomás, acrescentou que inclusivamente as lojas do Centro Comercial O Pescador estão a abrir mais tarde devido às dificuldades das pessoas chegarem atempadamente no horário de abertura.
Isabel Laranjeiro, como utente da TST, concordou com a gravidade da situação – por várias vezes teve de telefonar ao marido para a levar ao trabalho uma vez que o autocarro não chegava. Porém, acrescentou ainda um outro problema: a segurança dentro do autocarro. “Já me aconteceu um jovem começar a fumar no meio do autocarro, com crianças e idosos e quando o interpelei para apagar o cigarro fui insultada e temi que me agredissem”. Quem zela pela segurança?
Foi também referido por diversos intervenientes o papel do Transpraia. Não houve consenso. Todos concordam com o seu valor turístico, mas como meio de transporte, alguns afirmaram a sua desadequação em relação a partes do ano em que o frio e a chuva não permitem a sua utilização, outros criticaram a CostaPolis por terem “desterrado” o terminal para longe do centro, mas também se criticou a apatia do proprietário que nem sequer sinaliza o terminal e fica à espera dos dinheiros públicos.
Ficou assim, de forma geral, o debate dos cidadãos da Costa da Caparica, que consideram a cidadania como prática e a comunidade como uma construção a que ninguém deve faltar.
Resumindo:
Metro Sul do Tejo vir até à Costa da Caparica
Aposta na Bicicleta – Rede ciclável
Coordenar os horários e a oferta dos transportes públicos
Ordenação dos parques de estacionamento
Intervenção para o cumprimento das regras
Questão dos TST: cumprimento do contrato de serviço público e também segurança
Introdução de Reinaldo Ribeiro, coordenador do Res Pública:
Nesta primeira sessão da Res Publica depois das férias renovamos o nosso desejo da participação de todos para a discussão dos assuntos que aqui são apresentados. Desta vez, trazemos o tema das Acessibilidades que, cremos, merece toda a atenção dos habitantes da Costa da Caparica.
Todos sabemos e sentimos que a Costa de Caparica, devido à sua localização geográfica em relação à sede do Concelho, à capital do Distrito e a Lisboa está mal servida no que respeita a Acessibilidades.
É por demais evidente que a forma de se chegar e sair da Caparica está quase que totalmente baseada no transporte privado.
Os poucos transportes públicos que existem – no nosso caso, os autocarros da TST – são insuficientes, com horários inadequados e, mesmo assim, não respeitados e que, além de caros ainda são de má qualidade. Muitos têm sido os protestos dirigidos às autoridades competentes, dos quais a Gandaia tem sido uma voz incómoda mas, como vem sendo habitual, têm sido ignorados.
O grande projecto do Metro Sul do Tejo, que seria a grande solução para atender às necessidades de locomoção das gentes da Caparica, que trabalham nos Concelhos de Almada e Seixal e em Lisboa, terminou antes de chegar à Costa impedindo que os seus habitantes usufruam desse meio de transporte. Aliás, é de salientar que a 1ª fase da implantação do Metro, inexplicavelmente, já só previa a ligação à Universidade, mas não à cidade da Costa da Caparica (na época, 1999, ainda vila).
As ligações da Costa ao comboio da Ponte – Fertagus –, quer em direcção a Lisboa quer no sentido de Setúbal, são mais uma vez, quase inexistentes, obrigando os utentes daquele meio de transporte a deslocarem-se prioritariamente em viatura própria até à Estação do Pragal.
As ligações fluviais entre o Concelho de Almada e Lisboa só existem em Cacilhas, Porto Brandão e Trafaria, e as ligações destes terminais com a Costa são deficientes.
O mini-comboio – TansPraia – deveria ser, além de um pólo de atracção turística na época estival, também um meio de locomoção na cidade. O projecto Polis retirou-lhe essa possibilidade ao afastar o seu percurso do centro da Costa para os limites da cidade. Hoje, limita-se a ser apenas um passeio por algumas praias mas muito afastado do coração da cidade e, nesse sentido, ligando o nada a lugar nenhum. Está, pois, subaproveitado e em vias de extinção desperdiçando-se todo o potencial social que deveria ter.
Quanto às ciclovias, verifica-se que existe apenas um curto trecho para a circulação das bicicletas junto à orla marítima, cuja utilização se destina apenas ao lazer, e mesmo assim insuficiente atendendo à extensão das praias da cidade. Já para a utilização da bicicleta como alternativa ao transporte individual como meio de locomoção, as iniciativas das autoridades competentes são rigorosamente inexistentes.
Os acessos às praias da Costa são, praticamente, os mesmos que existiam há várias décadas, apesar da quantidade de utentes que deles se servem ter aumentado exponencialmente.
Estes são alguns dos pontos que a Res Publica trouxe hoje aqui para debater, mas outros não mencionados poderão igualmente ser debatidos.