Em nome da memória
Faz pouco mais de um ano que o Tribunal de Almada anulou a Declaração de Impacte Ambiental para a construção da estrada regional 377-2, de ligação da Costa de Caparica à Fonte da Telha.
Depois das intervenções do senhor Provedor de Justiça e da decisão da senhora ministra, aquela sentença judicial foi mais uma contribuição para aqueles que sempre acreditaram que poderiam vencer este crime.
Ainda assim, a presidente da Câmara Municipal de Almada e o presidente da Junta de Freguesia da Costa da Caparica não desistiram de obras que atentam contra património natural, agrícola e paisagístico do concelho e do país. De forma bizarra, PCP e PSD continuam de mãos dadas pelo betão no concelho de Almada.
Foi um percurso muito duro. Não é fácil enfrentar a especulção imobiliária e o poder instalado, que usou tudo, até a mentira, para prosseguir os seus intentos. Como estão vivas as palavras duras do Dr. Miguel Sousa Tavares: «Acuso esta gente que só sabe governar para eleições, que não tem sequer amor algum à terra que os viu nascer, que enche a boca de palavrões tais como “preservação do ambiente” e “crescimento sustentado” e que não é mais do que baba nas suas bocas, de serem os piores inimigos que o país tem. Gente que não ama Portugal, que não respeita o que herdou, que não tem vergonha do que vai deixar.»
Há dois anos a Senhora Presidente da Cãmara perdeu a compostura, quando apresentei uma declaração política sobre a estrada na Assembleia Municipal.
Há três anos, numa atitude inaceitável num estado de direito, a Câmara Municipal de Almada ocupou terras agrícolas à força e destruiu propriedade privada, sendo mais tarde acusada pelo tribunal de esbulho violento.
Há quase quatro anos a maioria comunista e a oposição oportunista uniram-se para rejeitar um Projecto de Deliberação do CDS que visava a protecção das terras atingidas.
Chamei à ER 377-2 a Estrada da Vergonha. Cada vez mais tenho convicção de que o nome só peca por candura. Mas valeu a pena o cansaço, as aparentes derrotas, até os insultos.
Valeu a pena esta luta que uniu agricultores, o Movimento de Cidadãos Uma Charneca para as Pessoas, políticos do CDS, munícipes e especialistas de elevada estatura científica como o Arq. Gonçalo Ribeiro Telles e o Prof. Eugénio Sequeira.
Valeu a pena a acusação rancorosa no Boletim Municipal por ter sido, há quase uma década, o único deputado municipal que impediu a unanimidade em torno do Programa Polis, onde esta estrada já estava contemplada.
Permitam-me uma nota pessoal. Se mais não houvesse, só por ter contribuído para a preservação deste património, a minha entrada na vida política teria valido a pena. Num momento em que nos apresentamos à avaliação dos cidadãos, é bom que a história não se apague.