Estratégia da Apple castiga os fãs
Sendo cliente da Apple desde que a maçã ainda tinha cores, tenho recentemente discordado visceralmente das decisões que Cupertino tem vindo a tomar. Sinto-me pessoalmente ofendido pela nova geração de computadores portáteis apelidados de Macbook Pro Retina.
Comprei um na semana passada.
Uma fonte segura garante-me que os novos Macbook Pro Retina – um dos quais está neste momento no meu colo – foram desenhados com os seus componentes internos complicadamente acoplados uns aos outros por questões de engenharia de hardware. Este método de produção faz com que qualquer substituíção de peças ou arranjos internos sejam uma pequena fortuna.
Esta fonte segura garante-me também que é graças a este complicado processo de soldagem que conseguiram baixar os preços. Segura ou não, esta fonte tem razão quando diz que o Macbook Pro retina não é passível de ser replicado. É mais do que a soma das suas partes. E, honestamente, é de caras a melhor máquina em que já passei as mãos.
Vamos aos detalhes
Ecrãn Retina – nome marketável à parte, é um brilhante e poderoso ecrãn que faz nativamente 2880×1800 pixeis. Se acham a vossa TV Full HD (1920 × 1080) da sala cristalina, não será por muito tempo.
RAM – 16 GB 1600 MHz DDR3 – Tendo em conta o exorbitante preço que custaria um upgrade daqui a um ano ou dois, decidi colocar o máximo de 16GB de RAM.
Processador – 2,6 GHz Intel Core i7 – Um QuadCore bastante respeitável. Com L2 Cache (por Core) de 256 KB e 6 MB L3 Cache.
Bateria – 95W/h de Litio. Seguramente a parte menos sexy deste artigo mas sem dúvida um dos pontos mais dificeis de substituír caso queiram replicar esta máquina sem ser Apple. Quando esgotarem os ciclos de carga a substituíção será ridiculamente cara, para cima de 300€. Com um uso perfeitamente normal de internet e trabalho leve dura perto de 7 horas. Mesmo a correr algo que puxe pelo sistema (Guild Wars 2) a bateria dura 2 respeitáveis horas.
Disco Rigido SSD – Fiquei-me pelos 250GB devido à recente evolução nas tecnologias de periféricos. Dois ports de Thunderbolt (ligação da Apple que sucedeu ao FireWire) e dois de USB3 facilitam em muito a gestão de grandes quantidades de dados e, como é o meu caso, 768 GB também nunca chegaria para o meu arquivo. A diferença entre um SSD e um Disco com componentes móveis é indescritivel. Caso queiram prolongar a vida do vosso actual computador comprem um SSD – pode até ser de 60GB, só para o sistema operativo – irão notar melhorias instantâneas.
Caixa – desenhada para dissipar correctamente o calor, cumpre a sua função com distinções meritosas. Estética à parte é eficaz, eficiente, durável.
Teclado – retroiluminado, confortável e responsivo como os anteriores.
Trackpad – facilmente o melhor do mercado. Parece estranho fazer assim tanta diferença mas é a fonte de interacção homem-máquina mais confortável.
Leitor de cartões SDXC
Ausência de drive optica – Não há cds. Não há DVDs. Não há Blurays. Não me importo.
Sinto que tenho de falar mais sobre a conectividade deste computador, que me faz crer que a Apple perdeu o seu caminho. Existem 4 ligações:
1 – Thunderbolt – Uma nova (com um ano e meio) ligação patenteada pela Apple para a qual não há periféricos uteis. O que existe é absurda, proíbitiva e desnecessáriamente caro. É, por enquanto pelo menos, uma ligação que não se liga a nada. Apesar de ter sido desenvolvido pela Intel usa o conector MiniDisplay que é pago por unidade produzida à Apple.
2 – USB 3 – standard da industria, nada a acrescentar.
3 – HDMI – outro standard da industria para output de audio e video.
4 – Mini Display Port – Mais uma ligação proprietária da Apple, que a disponibiliza a outros fabricantes de computadores desde que cumpram com as patentes da Apple.
Não existe Ethernet (vulgo cabo de rede), não existe firewire, mudaram o formato do carregador. Tudo isto porque a Apple aprendeu uma muito valiosa lição: adaptadores dão dinheiro. Muito dinheiro.
Olhando para o novo carregador vemos que a unica parte diferente é mesmo o conector magnético que liga ao Macbook. E foi alterado para pior. Onde o antigo encaixava confortávelmente este novo é irritantemente fraco. Habituado à força magnética do antigo onde sem sequer olhar para o computador se conseguia somente aproximando fazer o click magnético estabelecendo a ligaçao, fiquei profundamente irritado quando me apercebi após alguns dias de uso que tenho SEMPRE de olhar para a ranhura cuidadosamente e alinhar o conector como se não fosse nem magnético nem de design da Apple.
Fazer dinheiro com design é perfeitamente legítimo. É pena que a Apple tenha abdicado de bom design para fazer mais dinheiro.
Estes Chico-Espertismos da Apple em trocar desnecessáriamente de conectores trazem-lhes milhões de Euros por ano, não se equivoquem, é verdadeiramente um negócio multi-milionário alterar desnecessáriamente estes aparentemente irrelevantes detalhes numa peça de técnologia. Só pela alteração do carregador do iPhone 5 a Apple vai fazer 100 milhões de dolares, sem ter evoluído em nada o design, tirando a diminuíção do tamanho do conector e a inclusão dum chip para dificultar a produção externa à Apple. Não é mais rápido, não é melhor, são $100 milhões de adaptadores e cabos em vendas projectadas num ano, que já impactaram muito positivamente as acções da Apple.
Aparentemente todos os produtos da Apple estão cada vez mais fechados e estanques. Pena é que estão também nitidamente virados para o lucro em vez do bom design. iPads, iPhones, agora o MacBook Pro Retina e em breve todos os outros produtos Apple vão ser um balúrdio para reparar.
Se equacionam comprar Apple, comprem a extensão de garantia AppleCare. Nunca valeu mais a pena.