História dos Amigos do Buraco
Decorria o ano de 1997 quando se iniciaram as obras na Rua dos Pescadores que visavam renovar a rede de esgotos, eletricidade e pôr condutas de gás, que não existiam.
Foi também elaborada um novo pavimento para a rua, antes em alcatrão e com passeios em calçada Portuguesa, o que a priori parecia uma ideia excelente, mas que quando finalizada provocou entre as gentes da Costa da Caparica muita polémica pois a nova cobertura primava pelo mau gosto.
Pretendeu-se que o desenho se parecesse com ondas, tudo feito com tiras de tijolo a duas cores, sendo no centro adicionadas luzes no chão, desde o seu inicio até junto à marginal rente à praia fazendo-a parecer uma pista para aterragem de aviões e que logo nos dias seguintes foram vandalizados. Perante essa situação, a solução encontrada pela Câmara foi a de encher os buracos desprovidos de vidro e de lâmpadas, com bocados de cimento atirados como por acaso.
Também rapidamente se constatou a impossibilidade de manter aquela artéria com um ar limpo, ficando em muito pouco tempo pejada de pastilhas elásticas atiradas para o chão por pequenas e grandes pessoas e que se colavam firmemente, ficando enegrecidas com o tempo e que passados tantos anos ainda são visíveis
É hoje uma rua desprovida de cor, com muitas tiras de tijolo partidas, formando pequenos buracos aqui e ali, que são mais uma vez reparados com colheradas de cimento sem que haja um mínimo de interesse a nível de verdadeira restauração, tornando-a assim numa espécie de manta de retalhos desbotada.
Isto é uma introdução a uma história, que faço questão de vos contar por me parecer muito engraçada e que revela o bom humor das gentes desta terra, que sempre gostaram de mostrar o seu bom humor havendo verdadeiras histórias delirantes, de partidas que se faziam aos que para aqui vinham veranear e por esta ter tido repercussões entre as pessoas que dela fizeram parte.
Nessa altura a Rua dos Pescadores ainda era o local por onde desde sempre as pessoas faziam questão de subir e descer mostrando a todos os seus vestidos da última moda, assim como os penteados e calçado, nos domingos, feriados e em dias de sol. Porém, devido às obras, via-se agora um local que parecia esventrado, como se, se tivessem formado trincheiras e todos se preparassem para uma guerra civil e fosse necessário defender a cidade.
Os mais lesados eram os comerciantes que, para além de verem o seu negócio diminuir, porque as pessoas não tinham prazer nenhum em subir uma artéria sempre enlameada, com passadeiras de madeira, que atravessavam as valas diretas aos estabelecimentos e com mais tábuas de madeira aqui e ali, fazendo com que atravessá-la fosse um exercício tal como andar num arame suspenso no ar, tornado impossível para os comerciantes maioritariamente da restauração montar as suas famosas esplanadas
Claro que o descontentamento era geral, até porque o prazo da conclusão da mesma já se tinha esgotado e a paciência também
E num dia primaveril o Marques, dono de um restaurante típico chamado A Casa dos Churros, estava com alguns clientes e amigos á porta do seu estabelecimento, que tal como todos os outros tinha a tal passadeira de madeira. Só por graça o Marques adicionou á entrada um aviso de portagem. Os clientes, descontentes com o fato de não se poderem sentar cá fora numa mesa ao ar livre, em alegre convívio, lembraram-se de atirar com uma das mesas para dentro da vala e a seguir à mesa foram atiradas cadeiras e num ápice, chegaram à conclusão que era ali mesmo que iriam passar a tarde, comendo e bebendo.
Foram cerca de 10 pessoas que desceram e se sentaram na dita vala, de tal forma profunda que lhes tapava a cabeça. A tarde foi decorrendo em alegre cavaqueira, regada a álcool e muitas gargalhadas, até cerca da meia-noite, quando, já tomada a decisão de fazer daquele dia um marco histórico a não esquecer, atribuíram a si mesmos o nome.. AMIGOS DO BURACO, prometendo que se reuniriam ali regularmente durante os anos vindouros.
Para melhor assinalar a criação do clube, pediram ao engenheiro da obra que lhes fornece-se uma placa de tijolo, onde constasse o nome de todos os intervenientes e que fosse colocada em frente á porta da Casa dos Churros, que hoje já não existe, infelizmente, assim como tantas outros sítios típicos desta cidade, tomada de assalto por lojas de chineses e indianos.
Porém, a placa de tijolo que assinala este acontecimento ainda se pode ver bem, colada no mesmo sitio, sendo que alguns nomes estão hoje já muito desvanecidos e difíceis de reconhecer…