Invasão das Acácias
As plantas exóticas invasoras são maior ameaça à biodiversidade do que a emissão de gases com efeito de estufa, alerta a investigadora Cristina Máguas, exemplificando com a acácia australiana, uma praga em Portugal.
A acácia, como a hakea (planta invasora), “gosta do fogo”. “Duas acácias dão origem após um incêndio a um acacial. A elevada temperatura é um fator primordial para quebrar a dormência das sementes”, diz a investigadora da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, que organiza a partir de segunda-feira a maior conferência internacional sobre plantas exóticas invasoras.
A conferência, Ecology and Management of Alien Plant Invasions (EMAPI), com organização coordenada por Cristina Máguas, vai decorrer até 09 de setembro e junta quase duas centenas de especialistas de todos os continentes, entre investigadores, gestores e decisores políticos, que vão debater formas de enfrentar os desafios globais e regionais suscitados pelas plantas exóticas invasoras.
Sucedendo à 13.ª conferência, realizada no Hawaii, a reunião acontece pela primeira vez em Portugal, salienta Cristina Máguas em entrevista à Lusa, frisando que as plantas exóticas invasoras são um problema global que tem de ser resolvido à escala regional e local.
A investigadora explica que nem todas as espécies exóticas são invasoras e diz que em Portugal abundam as espécies exóticas, sendo apenas uma pequena parte invasoras, que se caracterizam pela expansão, desenvolvimento e capacidade física de ocupação de espaço.
A acácia australiana é um bom exemplo. Na zona das praias da costa da Caparica as acácias não deixam crescer mais nada, diz. E lembra que foram trazidas para Portugal pelo Estado Novo, sendo de resto comum a introdução deliberada das espécies invasoras.
“Em todas as partes do globo as invasoras são introduzidas, mesmo que não deliberadamente”, esclarece.
Independentemente da forma como chegam as espécies exóticas invasoras (não só as plantas) são uma preocupação e quer Portugal quer a Comissão Europeia têm produzido legislação.
O projeto “Invasoras”, que tem financiamento da União Europeia, estima que existam em Portugal continental 670 espécies de plantas exóticas (18% da flora registada), com 15% a ter um comportamento invasor.
Um decreto lei de 1999 regula a introdução de plantas exóticas e proíbe as plantas invasoras, estabelecendo uma lista de 28 plantas invasoras, como a acácia, a mimosa, o chorão, a erva-canária ou o jacinto-de-água.
Em 2015 entrou em vigor um regulamento europeu sobre espécies invasoras, que estima serem entre 10% e 15% das 12.000 espécies exóticas que existem na Europa.
“Até há pouco tempo vi acácias à venda”, disse Cristina Máguas à Lusa, lembrando que estiveram na moda em Portugal os jardins de plantas exóticas.
A luta contra as plantas exóticas invasoras só tem sucesso envolvendo cientistas, gestores e especialmente cidadãos, salienta a investigadora, alertando para a importância de se atuar perante “duas ou três acácias numa mata”, que “são um rastilho para começar um acacial”.
O “grande problema” é que nunca se faz isso. E a acácia é o problema. “Se compete com o eucalipto ganha”, diz.
Por tudo isso Cristina Máguas espera que da conferência resulte um maior conhecimento pela sociedade e pelos gestores (agrícolas e de florestas) e que se perceba que custa muito dinheiro lutar contra as plantas invasoras.
A conferência conta com oito oradores principais, entre eles Harold Mooney (Universidade de Stanford, Estados Unidos), um dos mais reconhecidos, sete simpósios e três saídas de campo.
As conferências EMAPI, que se realizam a cada dois anos, remontam ao início da década de 90 e pretendem essencialmente apresentar e discutir os mais recentes resultados da investigação científica sobre plantas invasoras.