Maria das Dores Meira, Candidata à CMA
Maria das Dores Meira, Candidata à presidência da Câmara de Almada, deu esta semana uma entrevista ao Diário de Notícias, que publicamos na íntegra.
A candidata da CDU ao município de Almada acusa a adversária do PS de estar ausente e de não estabelecer pontes com os trabalhadores da câmara e as forças vivas da autarquia. Diz que o seu património é a transformação que fez na cidade de Setúbal.
O PS ganhou a Câmara de Almada à CDU em 2017, mas agora as sondagens colocam-na muito próxima de Inês de Medeiros.
É verdade, começamos por aí. Temos o PS na presidência do município e, portanto, quando se verifica um ponto percentual de diferença quer dizer que é um empate técnico, muito favorável a quem não está no poder, no caso à CDU e a mim. Se se está no poder, se tem quatro anos e é o primeiro mandato e não descola da votação que teve em 2017 é muito mau sinal para o PS. Estamos confiantes.
Em 2017, Inês de Medeiros conseguiu ganhar com uma margem pequena…
Quero retificar, não foi Inês de Medeiros que ganhou a câmara, foi a CDU que perdeu.
Porque faz esse reparo?
Porque acho que houve um trabalho extraordinário durante 40 anos, com alguns erros nos últimos quatro anos. Houve algum desacelerar, um acomodar e achar que isto são favas contadas. É um erro enorme quando as pessoas se acomodam, as pessoas exigem cada vez mais e o município tem de estar à altura dessa resposta.
Que erros foram esses?
Houve algum descanso em relação ao tratamento de projetos complicados que estavam para sair, de coisas que estavam para inaugurar. Por exemplo, a CDU fez a requalificação do Chalé Azul na Cova da Piedade e por pruridos e até boa formação do nosso presidente Joaquim Judas entendemos dar esse edifício ao espaço do professor, para fazerem lá as suas ações de formação, mas como estávamos em cima das eleições, e para que as pessoas não nos julgassem mal, ficou fechadinho para depois entregar e inaugurar a seguir às eleições.
Mas correu mal…
Correu mal, perdeu as eleições e temos a presidente Inês de Medeiros instalada no Chalé. Mas também havia a a requalificação da 377, da via estruturante da Charneca da Caparica, que não levamos por diante e agora está a ser executado pela REN, com orçamento do Estado mas que foi homologado e autorizado pela Câmara Almada e é um crime no que diz respeito à qualidade de vida das populações.
Houve então excesso de confiança da CDU?
Excesso de confiança! Nós temos obras, temos visão estratégica, sabemos o que queremos, temos obras planeadas e projetos a saírem, mas demorou-se muito tempo a fazer os projetos e como saíram no último ano não os quisemos fazer porque soava a eleições. A ideia é que o eleitorado era fiel à CDU. E as pessoas decidiram dar um cartão amarelo para tirar a maioria absoluta à CDU, mas de facto o cartão amarelo tornou-se vermelho e fora de jogo.
Nestes quatro anos de gestão o PS mudou muito do que foi feito pela CDU?
Meu Deus, meu Deus! Sou moradora deste concelho. A gestão de Inês de Medeiros tem sido desastrosa, casuística e eleitoralista. Durante os primeiros três anos não foi feito nada, houve uma desorganização total dos serviços municipais, não há grande ligação entre os dirigentes e os técnicos e trabalhadores no setor operacional e muito menos ligação entre os eleitos, seja a presidente sejam os vereadores, e os vários setores que estão à responsabilidade de cada um. Não existe grande ligação ou orientação. Visitei os serviços todos da câmara, só me falta visitar a varredura da Costa da Caparica e, de facto, é um deixa andar, é as pessoas sentirem-se sozinhas, pedem-se materiais e não existem.
“Durante os primeiros três anos não foi feito nada, houve uma desorganização total dos serviços municipais (…) e muito menos ligação entre os eleitos, seja a presidente sejam os vereadores, e os vários setores que estão à responsabilidade de cada um.”
Durante a pandemia agravou-se esse cenário que descreve?
Os problemas sociais agravaram-se em todo o lado, em Setúbal também houve problemas sociais e não se encontra desorganização na gestão da câmara de Setúbal, as pessoas sabem o que têm de fazer, sabem com quem é que contam e sabem que os eleitos têm a porta do gabinete aberta e estão lá, estão lá a trabalhar, o que não acontece aqui.
É esse o património que quer trazer de Setúbal, esse sentido de organização?
É preciso organização, regras, proximidade e diálogo. Também com os nossos trabalhadores para eles saberem como vão fazer, as suas condições de trabalho têm de ser resolvidas e há aqui muita falha sobretudo no setor operacional. Em Setúbal foi assim que muita coisa foi resolvida. Aquele sucesso não coube só a mim, coube a 1700 trabalhadores, ao movimento associativo, às instituições e ao setor empresarial de Setúbal.
Se ganhar a Câmara de Almada é ainda mais fácil, é uma câmara com muito mais recursos do que a de Setúbal?
Tem muito mais recursos. E eu encontrei em Setúbal uma câmara praticamente falida com a gestão PS, com um município desorganizado e feio, em que ninguém queria ir para lá, onde não havia turismo e com a cidade com as costas viradas para o rio. O que pretendo aqui é que esse dinheiro seja de facto aplicado na melhoria da qualidade de vida, no reforço do orgulho e da identidade almadense, dar também garra e brilho a esta terra que parece adormecida e que até regrediu. Têm sido quatro anos desastrosos!
Um dos grandes problemas do município são os vários bairros degradados. Como tenciona responder à requalificação dos bairros?
Para já temos de falar com as pessoas desses bairros, a tal proximidade e o tal diálogo. Tem de haver investimento na cultura e desporto. Desporto é coisa que não existe nesta terra. É preciso pôr uma quantidade de projetos nos bairros. Depois temos a parte material, que é a requalificação do edificado, que está muito mal. Temos aqui um grande número de bairros que são propriedade do IRHU, que também deve estar a concorrer aos fundos do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) para a requalificação do seu património. Mas estou preocupado com aquilo que é a estratégia local de habitação que a Câmara de Almada apresentou ao PRR. Acho que está muito deficitário e pobre. A renda apoiada para as pessoas mais carenciadas? O que já ouvi por parte da presidente da câmara é dizer que “a renda apoiada pois, vamos ver, porque não temos terrenos”. Mas Setúbal também não tem, o que fizemos foi uma permuta com o IRHU, pedindo que em vez de nos pagarem o que têm de pagar pela construção da renda acessível nos entreguem lotes para fazermos a renda apoiada. Se aqui não há terrenos, por favor, comprem-nos, troquem-nos! Esta é uma oportunidade única para os municípios, há muitos anos que não existam programas que financiassem a construção de habitação ou a reabilitação do que já existe.
E em relação à mobilidade?
É muito mau porque agora no Plano dos Transportes Metropolitanos, de que Almada faz parte, cada um dos municípios apresentou a sua nova rede. E Almada não apresentou praticamente rede nenhuma, apenas maior frequência no centro da cidade, o que é grave. Com o metro no centro da cidade e com uma faixa de rodagem para cada um dos lados, onde circulam os autocarros e carros particulares, mais os táxis e ubers e carros que dão apoio ao comércio, é extremamente grave se um autocarro que para de 10 em 10 minutos passe a parar de 5 em 5, pois entope tudo o resto.
“Há muitos trabalhadores que nunca viram a presidente da câmara, que nunca a viram em pessoa. Eu acho isso incrível!”
Como está a tentar convencer os eleitores de Almada a voltarem a confiar na CDU? Quais são as suas bandeiras?
A bandeira que eu trouxe foi a minha experiência e o meu trabalho em Setúbal. Acho que é prova do que se consegue fazer com boas equipas, com vereadores igualmente empenhados, com motivação dos trabalhadores, com organização interna para ela ter reflexo no território. Mas nós temos de dar o exemplo. Se não vamos à câmara não sei como damos o exemplo, se não organizamos a câmara não sei como damos o exemplo.
Está a insinuar que Inês de Medeiros não vai à câmara nem está presente?
Não estou a insinuar, estou a constatar, é o que eu oiço dos trabalhadores. Há muitos trabalhadores que nunca viram a presidente da câmara, que nunca a viram em pessoa. Eu acho isso incrível! Eu vou tantas vezes a todos os setores, é só perguntar em Setúbal. Vou aos serviços discutir com os trabalhadores, vou ver como se resolve isto e aquilo, vou ver coisas, se está a andar ou não, portanto toda a gente me conhece na Câmara de Setúbal, toda a gente me viu em carne e osso. Aqui, a maior parte dos trabalhadores não viram a presidente da câmara e se a viram foi uma vez e ponto final. Se não temos uma pessoa presente ou só está presente quando vai haver uma iniciativa, ou quando há uma sessão de câmara – e esteve nas últimas por razões óbvias… -, porque também teve trabalho como comentadora e não estava presente nessas sessões porque coincidiam, então é difícil motivar as equipas. O que quero dizer às pessoas é que prezo a proximidade, prezo a minha presença, o meu trabalho, a motivação e a dinâmica que espero dar a todos para tentarmos resolver os problemas de Almada, mas com a participação de todos sem exceção. Quero dar uma outra alma ao movimento associativo, quero estar próximo deles, quero que sintam que são a base do desenvolvimento desportivo, cultural, da inclusão social e da solidariedade. São eles que movem mundos e não têm de ser perseguidos, pois é esta gente que trabalha de uma forma missionária para dar qualidade de vida aos outros.
Mas os eleitores de Almada estão conscientes do seu trabalho em Setúbal?
Acho que sim, Setúbal não está muito longe, são 30 e tal quilómetros. Aqui fala-se muito de Setúbal, há muita gente que trabalha lá ou até é de Setúbal e há muita gente que vai lá comer o nosso belo peixe e o choco frito e em passeio ao fim de semana e diz que “esta cidade teve uma transformação brutal’.
Se ganhar as eleições e não tiver maioria absoluta é possível fazer um acordo com o PS para conseguir governar a câmara?
Acho que não faz sentido um acordo com o PS, porque se é para o fazer só para ter a maioria dos votos, prefiro fazer com outro partido qualquer. O PS revelou não estar à altura para gerir um município destes. A maior parte das obras que foram feitas de rotundas foram feitas em contrapartida de construção de superfícies comerciais. Se a obra do PSD também é a que fizeram na Cova da Piedade, então também é muito preocupante fazer uma coligação com o PSD porque foi uma obra catastrófica. Estava lá uma rotunda a funcionar, com alguma fluidez, e agora temos ali um nó, estrangulada com uma quantidade de sinais de trânsito, que leva as pessoas a pôr as mãos na cabeça e a pedirem-me para, se ganhar, alterar a situação. O PS não fez nada, o urbanismo está parado, o desporto não existe, a cultura é casuística, degradaram-se as relações com o movimento associativo, mas pagou-se a peso de ouro pessoas que vieram para aqui fazer dança… 120 mil euros e não houve fiscalização em relação à documentação e ao que essa pessoa estava a fazer durante três anos, em que ganhou 360 mil euros. Depois o PSD vem reivindicar obras quando se vive uma coligação na câmara e não consegue explicar aquilo que a CDU já perguntou várias vezes, em relação a algumas que têm valores muito altos adjudicados à mesma empresa. Três obras em três freguesias diferentes, como se tivessem a mesma característica e a mesma medição de passeios e de estrada, e todas do mesmo valor, até os cêntimos são iguais. Foram feitas no Laranjeiro, na Cova da Piedade e na Costa da Caparica. É muito estranho!
Paula Sá