Mulheres de Almada
A história de 49 mulheres que têm marcado a vida da cidade de Almada é o tema de um livro que é hoje à tarde apresentado na Casa da Cerca. Segue o prefácio assinado pela presidente da autarquia Inês de Medeiros.
Todos nós já fomos confrontados com o facto da história ser feita pelos e para os vencedores. Quando se aborda a questão das mulheres na história, o caso é ainda mais complexo, pois não se trata sequer de vencedores ou vencidos. Salvo em raras exceções, a ou as histórias oficiais ignoram a sua própria existência enquanto cidadãs ativas e empenhadas. Poder-se-ia usar o enigmático aforismo de Roland Barthes: “A mulher começa onde acaba a história.”
No entanto, basta um olhar mais cuidado para se perceber que não só elas estão sempre presentes, como o estão de forma ativa. Foi por isso que quis começar pelas palavras de Michelle Obama, este prefácio de um livro tão revelador da dinâmica de Almada e das suas mulheres. Mulheres que amaram a sua família e dela cuidaram como amaram a sua terra e para ela contribuíram das mais variadas formas, e amaram e lutaram pelos seus direitos, ou seja, pelos Direitos Humanos.
Ser almadense não é apenas uma condição de nascimento ou linhagem, é uma escolha que fazemos todos os dias por esta cidade que é proclamada no feminino: a nossa bela Almada.
Almada cuja história também se distingue pelo reconhecimento e o espaço que as mulheres tiveram. E foram muitas, nas mais variadas áreas, desde professoras, atletas, cantoras, escultoras, revolucionárias, cientistas, etc…. Foram mulheres visionárias, que se destacaram pelo inconformismo, que souberam aproveitar o pouco espaço que a sociedade patriarcal lhes permitia, e usá-lo para o bem comum. E por isso merecem ser reconhecidas e imortalizadas na história do concelho e do país.
Às mulheres que ousaram sair da limitada esfera a que a sociedade as queria confinar, sempre se exigiu o dobro do esforço e da eficácia. Não apenas na sua área profissional, mas também na resposta aos preconceitos da “feminilidade”. Tantas vezes, sem condições, sem reconhecimento, vitimas de todo o género de descriminações, nomeadamente salarial, as mulheres que conseguiram furar o muro do silêncio e do anonimato, estas mulheres, as nossas mulheres de Almada serão sempre um exemplo de generosidade, de sentido de serviço público, de persistência e de coragem!
Este livro presta-lhes a devida homenagem, ao mesmo tempo que contribui para uma visão mais justa da história. São mais de quadro dezenas de mulheres de Almada, que pelo seu exemplo, demonstram que de facto “não há limite” para o que as mulheres podem realizar. Somos o que sonhamos, lutamos pela igualdade, pela justiça e pela liberdade.
Enquanto Presidente da Câmara Municipal de Almada deixo um profundo agradecimento às autoras Florbela Barão da Silva e M. Margarida Pereira-Müller pelo ímpeto de avançarem com uma obra que certamente será apreciada, não só no concelho de Almada, mas um pouco por todo o país. Continuemos a avançar para que mais mulheres sejam parte da história de Almada, mas doravante com o devido reconhecimento.
E assim cumprimos a tão bela prece de Sophia de Mello Breyner:
Dai-nos, Senhor, a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça.