Não Construir Mais na Costa!
Esta é uma das conclusões do estudo “Change – Mudanças Climáticas” conduzido por investigadores do Instituto de Ciências Sociais e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa ne coordenado pela socióloga Luísa Schmidt, após diversas consultas em três locais do nosso litoral: Costa da Caparica, Quarteira, no Algarve e Vagueira, perto de Aveiro.
A Gandaia foi uma das diversas instituições e personalidades que colaboraram neste estudo e pudemos constatar que a realidade impõe medidas de resposta a uma situação que já se verifica ser grave, mas que tudo aponta vir a agravar-se consideravelmente. Por exemplo, a erosão costeira na Cova do Vapor atinge uma perda média de 26 metros por ano, Porém, na nossa região, explodiu o número de habitantes (94%), de edifícios (44%) e de alojamentos sazonais (60%) nas últimas duas décadas.
A população portuguesa tem-se deslocado progressivamente para o litoral, sendo já o caso de um em cada nove portugueses. Entre os dois últimos censos – 2001 e 2011 – a população junto à costa aumentou 10%. Também a presença de edifícios saltou de 254 mil unidades em 1970 para 855 mil em 2011. Mais de metade – 490 mil – está desocupada. No entanto, ocupados ou não, os efeitos da construção pesada fazem-se sentir de forma dramática nos nossos areais.
Inquéritos conduzidos pelo estudo nestas três localidades mostram que a erosão costeira preocupa os moradores, mas poucos habitantes parecem dispostos a procurar outro sítio para viver. Nos três locais, a grande maioria dos inquiridos quer que seja feito de tudo – esporões, quebra-mares, paredões e enchimento artificial de praias – para manter a costa como está e proteger os seus imóveis. Uma proporção minoritária – que não chega a 30%, na Costa da Caparica – concorda que os edifícios é que têm de ser mudados para outro lado. “As pessoas acham que deve se manter tudo como está”, conclui Luísa Schmidt. Um outro aspeto abordado no estudo era quem financia as obras de proteção. Todos os portugueses? Só quem vive no litoral? A Europa?
A maioria dos habitantes das três localidades – de 73% a 89% – diz “não” à construção de novos edifícios junto à costa. Na Costa da Caparica, 75% dos inquiridos não confia na actual gestão costeira. Mas na Vagueira e na Quarteira, a proporção é menor (42% e 31%).
Parece plausível atribuir esta claríssima diferença na perceção das populações à polémica intervenção da CostaPolis.