O Meu Cavalo

Quando eu era muito criança, talvez com uns três ou quatro anos, tinha um cavalo a que dei o nome de “Caguinchas”.

Não era um cavalo de verdade, como direi?, era um cavalo imaginado, mas, no entanto, para mim era real.

O seu corpo era feito de uma cana. As suas patas eram as minhas pernas. Na parte que correspondia à cabeça atei-lhe um cordel que eram as rédeas com que eu lhe impunha o trajecto a percorrer.

Eu montava-o e ele, feliz, trotava, galopava e transportava-me pela extensão do curto quintal, como se percorresse imensos prados verdes. Eram as minhas curtas pernas que definiam o ritmo que o “Caguinchas” deveria imprimir na nossa cavalgada, mas foram inúmeras as viagens que eu fiz montado no dorso do meu cavalo.

Recordo-me ainda dos cuidados que eu tinha com a sua alimentação e higiene. Antes de ir dormir, eu tinha uma tarefa obrigatória a fazer, para a qual os meus próprios pais me alertavam, quando se aproximava a hora de ir para a cama. Com devoção, escolhia um punhado de ervas viçosas e enfiava algumas pela abertura da cana, a que eu chamava boca, e despejava nela um pouco de água. Deixava ainda algumas ervas no chão para ele comer durante a noite, caso tivesse fome.

Quando a manhã despontava, eu corria para o meu amigo “Caguinchas”. Retirava-lhe as ervas da boca, lavava-o com desvelo, falava-lhe com carinho sussurrando-lhe palavras amigas e revelava-lhe qual seria a cavalgada que iríamos dar nesse dia pelo inocente mundo dos sonhos.

Reinaldo Ribeiro

15DEZ2020

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