O Telefone

 

Não me proponho avançar com qualquer teoria sobre esta matéria de comunicação pois já disse tudo o que imagino num texto que aqui publiquei, com o nome “Viagem pelo futuro” e não arrisco mais.

 

Venho só recordar a minha relação com esse instrumento desde os anos 50, para a dar a conhecer aos mais novos, que pouco imaginam sobre o assunto.

 

Era o tempo em que os ingleses dominavam a exploração em Portugal através da APT – The Anglo Portuguese Telephone Company.

 

O primeiro telefone de que me recordo, era dos estabelecimentos do meu avô José Pedro na Arrentela e que pela dimensão do concelho, tinha o indicativo local 2210 seguido do 657, número este que com as devidas adaptações de crescimento e necessidade de renumeração, veio até aos nossos dias já com 9 dígitos, mas mantendo aquela informação inicial e final, pertencendo agora a um familiar.

 

Naquele tempo os telefones não dispunham de marcador numérico rotativo, isso só apareceu mais tarde. Era pedida verbalmente a ligação para tal número e se a telefonista da APT estivesse com bastante trafego, desligava-se a chamada que era depois retomada por iniciativa da própria telefonista. Se a chamada visasse um número fora da periferia de Lisboa, então estávamos em presença de uma chamada interurbana e esta era seguramente mais demorada; chamadas para o estrangeiro eram impensáveis. Outros tempos…

 

Curiosamente nessa época, os telefones de Lisboa tinham 6 dígitos enquanto os da periferia por serem por concelhos tinham 7 dígitos, embora só os 3 últimos não fossem repetidos.

 

Mais tarde quando trabalhei na Companhia de Lanifícios da Arrentela o seu número era ainda mais antigo o 2210.005 e foi através deste aparelho, que comecei os meus namoricos e contactos com amigos, que muito enervavam a telefonista da fábrica, pelas minhas demoras.

 

O sistema, então chamado P.B.X. – Private Business eXchange, era um aparelho de cavilhas em pares que comportavam uma chamada para o exterior e uma dezena de chamadas entre sectores internos da fábrica. Mais tarde aquelas iniciais deram título a um apreciado programa no Radio Clube Português com o malogrado Fialho Gouveia entre outros.

 

Quando chegava o momento de conferir a fatura da APT, o cliente recebia um saco de talões com as chamadas feitas.

Os talões tinham cortes diagonais, estabelecendo o tempo gasto num dos lados e na outra banda o valor em escudos/centavos, vinham agrafados por dia ou semana e assim era fácil conferir.

Mas este modelo mais tarde, caiu em desuso e só era enviado a pedido do cliente em caso manifesto de dúvida sobre o valor da fatura. Aquela anotação nos talões era feita manualmente pelas próprias telefonistas locais, o que levava a se desconfiar das suas contagens para débito ao cliente, também eram raparigas que conheciam as vidas das pessoas, por lhes ser fácil escutar as conversas, fossem estas de que tipos fossem e provavelmente por outras razões ainda, ao trabalharem por turnos, tinham alguma má fama.

 

De recordar ainda a utilização de uma ensurdecedora buzina que as telefonistas usavam para alertar o cliente do telefone mal pousado. Era um ronco muito penalizante para o ouvido.

 

Havia então na Torre da Marinha o chamado guarda-fios que aproveitava as subidas aos postes para contactar as várias namoradas de que dispunha. E era um caso sério de conquistador.

 

Quando Bell registou a invenção do telefone em 1876, estava longe de saber como este meio de comunicação evoluiu no seculo seguinte e seguramente ainda menos da sua evolução mais recente. Como vai ainda evoluir? – É a questão que os menos céticos desafiam.

 

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Pensado em Espanha, escrito em Setembro 2014 por MFAleixo

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