“O teu rosto será o último”
Primeiro romance de João Ricardo Pedro, Prémio Leya 2011, já em quinta edição, apetece dizer que há males que vêm por bem. Foi por o engenheiro eletrotécnico ter ficado no desemprego que fomos positivamente surpreendidos com um novo romancista. Pode ter chegado para ficar.
Num contexto ancorado no 25 de abril de 1974, o tempo de três gerações de uma família portuguesa abarca os anos da ditadura, da sua guerra colonial e o pós 25 de abril. Não se trata, contudo, de um romance histórico. Embora o destino de algumas personagens esteja relacionado com o contexto político, o que interessa verdadeiramente são as sensibilidades dessa família. Filho de Paula e de António Mendes, neto do doutor Augusto Mendes, Duarte é o catalisador das memórias familiares, apresentadas fragmentadamente.
” Duarte continuava com os dedos das mãos estendidos sobre o tampo de ferro, mas Luísa não lhe perguntou porque deixara de tocar piano, nem se lamentou por nunca o ter ouvido tocar. / Levantou-se do banco de madeira e disse: «Vamos para dentro. Está a ficar frio.»”
Assim termina o livro, com um final em aberto e várias pistas não solucionadas dum enredo com episódios aparentemente autónomos. A ponto do leitor se interrogar se não haverá uma sequela do romance.