Porto da Trafaria

António Cerveira Pinto Porto publicou um carta aberta ao Primeiro Ministro de Portugal sobre o Porto da Trafaria, por Joaquim Bertão Saltão
Ex-Comandante de Marinha Mercante, Perito Marítimo e outras actividades cone-xas. Gestor Público Aposentado.
Cascais, Janeiro de 2015.

Carta Aberta ao Exmo. Senhor Dr. Pedro Passos Coelho, digníssimo Primeiro-Ministro do Governo da República Portuguesa.
Excelência, Escrevo em carta aberta, com receio que esta missiva corra o risco de encalhar na porta do gabi-nete de V. Exa. e por conseguinte sem hipótese de ter conhecimento do seu conteúdo. Esta carta tem por fim desmistificar certas alusões e noticias que têm vindo a lume, de todos os quadrantes, sobre portos de águas profundas, terminais de contentores e a “Golada do Tejo”. Muita celeuma envolve estas questões e muitas discussões têm sido geradas, infelizmente peja-das de falácias, paralogismos e sofismas. Ora, as falácias são um raciocínio errado com aparência de verdadeiro, que quando cometidas involuntariamente por falta de informação são paralogismos, ou seja, raciocínios falsos, mas que não são intencionalmente produzidos para enganar. Estes, eu perdoo. Os sofismas, porém, são para confundir e iludir o povo com fins pouco dignos e abomino-os, porque são encomendados por alguém que põe os seus interesses acima dos interesses da Nação. Daquilo que tenho ouvido ou lido sobre o assunto em análise, parece que os opinantes pipoqueiam as mais diversas alusões que chegam, por vezes, a ser patéticas. Por conseguinte,”foram preguiçosos, não fizeram bem o trabalho de casa”, como muito bem V. Exa. costuma dizer. Tenho ouvido pronunciarem-se sobre o assunto (que vou analisar) engenheiros, economistas,  juristas e jornalistas. Muitos deles, porventura, sem nunca terem pisado o convés de um navio ou um cais de movimentação de cargas, mas como falam e escrevem muito bem são lidos e ouvidos sem serem contestados, porque de assuntos de Mar os que mais entendem, em Portugal, estão calados.
Desta vez, se V. Exa. tiver paciência e disponibilidade de ler até ao fim, fica a opinião de um pro-fissional da Marinha Mercante. Profissionais que normalmente não são ouvidos, quando deviam ser os primeiros a emitir opiniões sobre os assuntos do Mar que, depois de analisadas e pondera-das, passariam a acções políticas.
1.
Para se compreender o meu parecer pro bonoé necessário fazer algumas definições e considerações de ordem técnico-marítima. Vou tentar que sejam explícitas, para que todos as possam entender.
Portos de águas profundas
O que é um porto de águas profundas? É um porto que pode receber os maiores navios existen-tes, ou os maiores navios a conceber num futuro próximo. Isso significa que este tipo de porto tem que ter canais de acesso e profundidades que permitam o acesso e manobra a navios de grande envergadura e grande calado (altura de água suficiente para o navio flutuar livremente).  Actualmente, os maiores navios existentes porta-contentores são denominados18K TEU. São capazes de transportar 18.250 Twenty Equivalent Unit (TEU), o que significa o equivalente a um contentor de 20 pés (6,096 metros) de comprimento. Estes 18K TEU têm 400 m de comprimento, 59 m de boca (largura) e um calado de 14,5 m/16 m. Em Novembro de 2014 apareceu o navio “CSCL Globe”, capaz de transportar 19.000 TEU (19K), com as mesmas dimensões dos 18K .  A próxima geração dos 21.000 TEU/22.000 TEU apontam para um comprimento de 427 m, boca de 59 m e o calado não irá além dos 16m. Há projectos para navios ultra grandes de contentores, os ULCS (Ultra Large Container Ships), que poderão transportar de 24.000TEU a 25.000 TEU. Estes navios estão previstos até 2021 e em 2030 chegar-se-á aos 30.000TEU, tendo estes um comprimento de 520 m, boca de 70 m e calado de 16,5 m. Não sei se estes últimos projectos, de 24, 25 e 30K se irão concretizar. Talvez o limite seja os 22.000TEU, conforme muitos
think tanks apregoam, por razões técnicas e económicas. Portanto, um porto de águas profundas, para permitir a navegação do tipo de navio em análise, de 18 K, em águas abrigadas, deverá ter canais de navegação com uma largura mínima de 250 metros e uma profundidade mínima de – 18 m ao ZH (Zero Hidrográfico, ou seja, o plano de referência situado abaixo do nível de maré astronómica mais baixa).
Porto de águas profundas no estuário do Tejo?
Para quê um Porto de Águas Profundas no porto de Lisboa? Qual será a política a seguir relativamente a um terminal de contentores de águas profundas no porto de Lisboa? Será um porto para exportação e importação das necessidades do Vale do Tejo? Ou será um por-to “Hub-and-Spoke”, um porto marítimo plataforma de tráfego internacional que recebe cargas de

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